Casimiro cunha *
Clamas que o tempo está curto;
Contudo, o tempo replica:
- “Não me gastes sem proveito,
Simplifica, simplifica.”
E’ muita conta a buscar-te...
Armazém, loja, botica...
Aprende a viver com pouco,
Simplifica, simplifica.
Incompreensões, chicotadas?
Calúnia, miséra, trica?
Não carregues fardo inútil,
Simplifica, simplifica.
Encontras no próprio lar
Parente que fere e implica?
Desculpa sem reclamar,
Simplifica, simplifica.
Se alguém te injuria em rosto,
Se te espanca ou sacrifica,
Olvida a loucura e segue...
Simplifica, simplifica.
Recebes dos mais amados
Ofensas que não se explica?
Esquece a lama da estrada,
Simplifica, simplifica.
Alegas duro cansaço,
Queres casa imensa e rica;
Foge disso enquanto é tempo,
Simplifica, simplifica.
Crês amparar a família
Pelo vintém que se estica?
Excesso cria ambição.
Simplifica, simplifica.
Dizes que o mundo é de pedra,
Que as provas chegam em bica;
Não deites limão nos olhos,
Simplifica, simplifica.
Recorres, em pranto, ao Mestre,
Na luta que te complica,
E Jesus pede em silêncio:
Simplifica, simplifica.
(*) Órfão de pai aos sete anos, tendo cursado apenas as primeiras letras em escolas primárias, Casimiro Cunha, depois de perder uma vista aos 14 anos por acidente, cegou da outra aos 16. Adolescente, ainda, colaborou na impressa vassourense. Desde que se tornou espírita confesso, estendeu aos periódicos espiritistas, principalmente ao Reformador, a sua produção poética. Foi um dos fundadores do Centro Espírita “Bezerra Menezes”, de Vassouras. Mário Cis era o pseudônimo que ele comumente usava. Prefaciando o primeiro livro do poeta – Singelos -, M. Quintão chegou a afirmar que ele “fechara os olhos às misérias da Terra, para melhor entrever as belezas do Céu”. Jamais se lhe ouviu dos lábios um queixume, uma palavra de revolta. Era a resignação em pessoa. “Alma feita de luz,” – afirmou-o Armando Gonçalves (Colar de Pérolas, pág. CXXVI) – “é um dos mais vigorosos literatos que enchem de orgulho o torrão fluminense.” (Vassouras, Estado do Rio, 14 de Abril de 1880 – Vassouras, 7 de novembro de 1914.)
BIBLIOGRAFIA: a) do homem terreno: Singelos; Efêmeros; aves Implumes; Pétalas; Perispíritos; Álbum de Delba, póstumas.
b) do poeta desencarnado: Cartas do Evangelho; cartilha da Natureza; História de Maricota; Gotas de Luz – todas pelo médium Francisco Cândido Xavier; Juca Lambisca e Timbolão – pelos medianeiros desta Antologia.
13. Leia-se in-com-preen-sões,com sinérese.
18. Ler no/ ar, em duas sílabas.
83. Cf. a nota nº. 13 deste capítulo.
114. Note-se a mestria com que o poeta se serviu do bordão: “Simplifica, simplifica.
162. Leia-se com as, em uma sílaba (Ectlipse).
Livro: “Antologia dos Imortais” - Psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
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