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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Crise no Japão põe à prova juventude inquieta do país.



Geração que cresceu em meio à riqueza e é vista como materialista por mais velhos se volta à solidariedade após terremoto
Compartilhar: No momento em que centenas de milhares de jovens começavam suas vidas profissionais, na semana passada, eles também enfrentavam um Japão transformado e que vai testar uma geração que cresceu em meio à riqueza, mas rejeitada pelos mais velhos, que a veem como materialista.


Tradicionalmente, o 1º de abril é o dia da admissão de novas equipes de trabalhadores que assumem a responsabilidade e os valores adultos, vestindo as camisas brancas engomadas que são o uniforme do Japão corporativo. No entanto, eles se viram diante de um panorama tão incerto quanto qualquer outro em suas vidas, com a economia japonesa e o orgulho nacional feridos pelo desastre triplo do terremoto, tsunami e crise nuclear.


Foto: The New York Times
Japonesas fazem orações em funeral de vítimas do terremoto do dia 11 de março


Yo Miura esperava entrar para um banco na área de Sendai com um rendimento estável e uma pequena dose de prestígio. Entretanto, sua data de início no banco foi adiada, enquanto o nordeste do Japão luta com a sua reconstrução. "Minha vida mudou completamente", disse ele, sentado no gabinete de recrutamento na Universidade Tohoku, em Sendai. "Antes, minha vida era tranqüila e previsível. Agora, eu não tenho certeza do que o futuro me reserva”.
Enquanto espera por informações de seu empregador, Miura planeja seguir o exemplo de seus amigos e se voluntariar para ajudar as pessoas a reconstruírem suas casas. Miura espera que, ao reparar paredes quebradas e colocar telhas novas em telhados para consertar a vida das pessoas ele consiga dar um significado mais profundo à sua. "Há tantas casas destruídas, eu sinto que posso ajudar", disse ele.
Embora muitos dos japoneses mais velhos tenham rejeitado essa geração, alegando que é muito mimada para estar à altura dos valores tradicionais do país, do autosacrifício e trabalho duro, muitos jovens estão encontrando significado na crise atual.
Agora, alguns graduados que buscavam a vida corporativa encontraram propósito no voluntariado em grupos sem fins lucrativos que levam ajuda a pessoas que perderam tudo. Alguns estudantes foram às ruas para recolher doações para os necessitados. Blogs e sites de redes sociais estão inundados com comentários de jovens que perguntam o que podem fazer para ajudar.
"Antes do terremoto, eu pensava apenas em mim e no que eu poderia fazer para a minha nova empresa", disse Miki Kamiyama, que se formou na Universidade Meiji e começou a trabalhar em uma empresa de cabo na sexta-feira em Yokohama. "Mas agora eu acho que posso fazer mais para toda a sociedade”.
Entre aqueles que sofreram o maior impacto estão as novas contratações da Tokyo Electric Power Company, proprietária da usina nuclear em Fukushima. Antes uma das mais prestigiadas empresas no Japão, a Tokyo Electric se tornou o alvo de raiva e desprezo.
A Tokyo Electric está tão consumida com o fechamento de seus reatores em Fukushima que é improvável que tenha muitos trabalhadores livres para treinar os cerca de 1,1 mil novos funcionários que começariam a trabalhar na semana passada. Mesmo assim, alguns novos funcionários percebem a oportunidade de reparar uma empresa quebrada.
"De certa forma, sinto-me feliz por estar na vanguarda para ajudar as pessoas e a sociedade do Japão", disse um novo funcionário que pediu que seu nome fosse omitido para evitar represálias. "Eu sinto que as pessoas que trabalham para empresas como a Tokyo Electric querem ajudar de alguma forma”.
A grande questão é saber se esses jovens continuarão tão empenhados nas causas depois que a situação se normalizar. A vida em muitas empresas japonesas, especialmente para novos funcionários, pode consumi-los, deixando pouco tempo para dormir, muito menos para atividades voluntárias. Sócios, cônjuges e filhos têm a sua própria necessidade de atenção. E como as identidades das pessoas estão intimamente ligadas aos grupos aos quais fazem parte, a pressão social poderia levá-los naturalmente a seus círculos familiares, companheiros de trabalho ou amigos próximos e da escola.
"Ainda é cedo para saber qual será o impacto do terremoto e do tsunami", disse Hiroshi Sakurai, que ensina sociologia na Escola Internacionais de Estudos Liberais na Universidade Waseda. "Os japoneses estão acostumados a essas coisas".


No entanto, uma minoria de jovens adultos não apenas continua a encontrar sentido no sofrimento que estão vendo a cada dia, mas a oferecer apoio ao Japão. Essa sensação de conexão motivou Keiko Eda, uma voluntária no Peace Winds Japão, uma organização de ajuda humanitária em Tóquio. "Por causa do terremoto, eu acho que muitos jovens estão claramente mudando, incluindo eu mesmo", disse ele. "Eu não reconheço isso como nossa vida normal”.


*Por Ken Belson
The New York Times

08/04/2011 08:03








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