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terça-feira, 19 de abril de 2011

Reflexão: CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES


De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir.

Umas tem sua causa na vida presente; outras, fora desta vida.
Remontando-se a origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e do proceder dos que os suportam.
Quantos homens caem por sua própria culpa!
Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!
Quantos se arruinam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por nao terem sabido limitar seus desejos!
Quantas uniões desgracadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas quais o coração nao tomou parte alguma!
Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade!
Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!
Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as mas tendências!
Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.
Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo a origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderao dizer:
Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, nao estaria em semelhante condição.
A quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo?
O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela apenas a sua incúria.
Os males dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes da vida.
O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente, tanto quanto intelectualmente.
A lei humana atinge certas faltas e as pune.
Pode, então, o condenado reconhecer que sofre a consequência do que fez. Mas a lei não atinge, nem pode atingir todas as faltas; incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem, Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, nao deixa impune qualquer desvio do caminho reto.
Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos deploráveis.
Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou.
Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal.
Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras; sem o que, motivo não haveria para que se emendasse.
Confiante na impunidade, retardaria seu avanço e, consequentemente, a sua felicidade futura.
Entretanto, a experiência, algumas vezes, chega um pouco tarde: quando a vida já foi desperdiçada e turbada; quando as forças já estão gastas e sem remédio o mal.
Põe-se então o homem a dizer:
"Se no começo dos meus dias eu soubera o que sei hoje, quantos passos em falso teria evitado! Se houvesse de recomeçar, conduzir-me-ia de outra maneira. No entanto, já não há mais tempo!"
Como o obreiro preguiçoso, que diz:
"Perdi o meu dia", também ele diz:
"Perdi a minha vida".
Contudo, assim como para o obreiro o Sol se levanta no dia seguinte, permitindo-lhe neste reparar o tempo perdido, também para o homem, após a noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, em que lhe será possível aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro.

Allan Kardec. Da obra:  O Evangelho Segundo o Espiritismo.

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