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quarta-feira, 25 de maio de 2011

MEDICINA ESPÍRITA




A Medicina Espírita é um processo em desenvolvimento. Começou com Kardec e o Dr. Demeure, em Paris, na segunda metade do século passado. As experiências e observações realizadas com médiuns terapeutas na Clínica do Dr. Demeure figuram, em parte, na Revista Espírita, coleção de doze volumes dos doze anos em que Kardec dirigiu e redigiu, praticamente sozinho, os fascículos mensais da publicação por ele fundada. A Medicina Espírita é uma decorrência natural da natureza e das finalidades do Espiritismo. Tanto no campo científico, quanto no filosófico e religioso, a Doutrina Espírita se revelou como uma forma de Humanismo Ativo, destinado não apenas à estabelecer princípios humanistas, mas também a agir no homem pelo homem, decifrando-lhe os mistérios do corpo e do espírito e proporcionando-lhe os recursos culturais para a humanização do mundo.


Os problemas da saúde humana não podiam escapar do seu enfoque universal. Nesse plano, como em todos os demais, Kardec agiu com prudência e sabedoria, pesquisando, observando, estudando e por fim orientando. O materialismo dominante nas Ciências e na Medicina repeliu a Medicina Espírita. Kardec, por sua vez, sobrecarregado com os múltiplos encargos doutrinários, não teve tempo para cuidar especificamente desse problema e da Pedagogia, dois campos em que militou com sucesso, tendo suas obras adotadas pela Universidade da França. Não deixou o tratado de medicina Espírita e o de Educação e Pedagogia Espírita que desejava elaborar. Completada a obra da Codificação do Espiritismo, lançou-se ao campo das aplicações doutrinárias, segundo suas próprias palavras, com a elaboração do livro A Gênese, de importância fundamental nos três campos fundamentais do Espiritismo. Mas deixou, com A Gênese, um modelo do que ele chamou aplicação dos princípios e dos dados do Espiritismo às diversas áreas da cultura.


Como médico, pouco sabemos de suas atividades, a não ser o que informa Henri Sausse, seu contemporâneo e amigo, e posteriormente as pesquisas e a esquematização notável da vida do codificador no livro Vida e Obra de Allan Kardec. Seu interesse pelo Espiritismo o afastou de todas as demais atividades, como do cargo de diretor de estudos da Universidade da França. Cabia-lhe iniciar no mundo as pesquisas científicas dos fenômenos mediúnicos, o que fez com critério invulgar e plena abnegação. Charles Richet, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade da França, Prêmio Nobel de Fisiologia, prestaria mais tarde sua homenagem a Kardec, reconhecendo, no limado de Metapsíquica, o critério científico de Kardec, que jamais expusera questões ou elaborara princípios que não se baseassem em rigorosas pesquisas.


Apesar desse inicio promissor, a Medicina Espírita não conseguiu avançar como devia, em virtude das barreiras que contra ela levantaram todas as forças dominantes na época: científicas, filosóficas e religiosas, num verdadeiro conluio em que se destacaram os elementos clericais e os médicos com suas sociedades profissionais e científicas. Não obstante, o sucesso das pesquisas científicas de Richet, Crookes, Notzing, Zollner, e tantos outros, no campo dos fenômenos mediúnicos, e recentemente a comprovação da realidade fenômenica pela Parapsicologia, deram novo alento às possibilidades da Medicina Espírita. Hoje há várias associações de Medicina e Espiritismo de médicos espíritas no Brasil e no mundo, grandes redes hospitalares espíritas e notáveis trabalhos publicados por cientistas e médicos espíritas, particularmente nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Itália, na Alemanha e na Suíça.


O interesse das ciências soviéticas também se manifestou, apesar das objeções ideológicas, e o Dr. Wladimir Raikov, da Universidade de Moscou, projetou-se mundialmente como investigador dos fenômenos mediúnicos através da Parapsicologia, interessando-se especialmente pelo problema de reencarnação, sob a hábil designação de reencarnações sugestivas, como ocorrências do tipo psiquiátrico que precisam ser esclarecidas. Nos países de órbita soviética o interesse cresceu de maneira surpreendente. Na Romênia chegou-se a criar uma nova corrente científica, designada como Psicotrônica, mas que na verdade não passa de Parapsicologia disfarçada para escapar aos preconceitos materialistas já levantados contra a ciência de Rhine e McDougal.


A maior conquista dos soviéticos nesse campo foi a descoberta científica e tecnológica, na famosa Universidade de Kirov, no Afeganistão, da existência do corpo bioplásmico das plantas, dos animais e do homem. Esse corpo, que corresponde em estrutura e funções, plenamente, ao perispírito ou corpo espiritual do Espiritismo, que representa urna revolução copérnica na Biologia e na Medicina. Infelizmente o estado interferiu na questão e as pesquisas foram suspensas por questão de segurança ideológica do Estado Soviético. Apesar disso, o livro de Sheila Ostrander e Lynn Schroeder, da Universidaade de Prentice Hall (EUA), lançado por essa Universidade, posteriormente pela Editora Bentam Books, de Nova York, contendo entrevistas comprobatórias dos cientistas responsáveis, continua a circular no Ocidente. Os cientistas revelaram a sua convicção de que essa descoberta abre novas perspectivas para as ciências e particularmente para a Medicina, pelo que foram punidos.


O capítulo da Medicina Espírita nas ciências soviéticas, apesar de oficialmente condenado, abre imensas perspectivas no campo científico mundial. Chegou-se a noticiar a realização, em Moscou, de um simpósio científico sobre as obras de Allan Kardec, mencionado como um racionalista do século passado, na França, que já havia se referido ao corpo-bioplásmico.


A Medicina Espírita, portanto, é uma realidade inegável na atualidade científica do mundo, e sua biografia apresenta-se dramática, implicando até mesmo problemas internacionais. Essa realidade se enriqueceu com o episódio brasileiro do chamado caso Arigó, do famoso médium curador de Congonhas do Campo, Minas Gerais, pesquisado por uma equipe de cientistas e médicos de várias Universidades norte-americanas. As pesquisas provaram a existência real de diagnósticos, curas de doenças incuráveis, como casos de câncer desenganados e intervenções cirúrgicas, sem assepsia nem anestesia de qualquer espécie. Arigó foi caluniado, após sua morte acidental, por autoridades eclesiásticas, como charlatão, mas consagrado pelos cientistas como um dos maiores casos de mediunidade curadora do mundo. Morreu num desastre de automóvel, precisamente quando esperava a visita de uma equipe de cientistas suíços e outra de cientistas japoneses, interessado; em pesquisá-lo. Tivemos em mãos os pedidos de licença dessa equipes, tendo Arigó nos convidado para ajudá-la na recepção dos pesquisadores, que deviam permanecer várias semanas em Congonhas do Campo.


A Medicina Espírita não é uma aplicação pura e simples da mediunidade curadora a casos de doenças incuráveis, nem uma forma de curandeirismo. É o que Kardec chamava uma aplicação dos princípios espíritas no plano cultural. No caso, aplicação específica à Medicina, o que só pode ser feito por médicos. O Espiritismo contribui com a mediunidade e a Medicina com o saber e a experiência dos médicos. Há casos dessa dupla contribuição conjugarem numa só pessoa: o caso dos médicos espíritas que também médiuns. Por isso, as sociedades de médicos espíritas são importantes, pois podem liderar movimentos de arregimentação de elementos dos dois campos e encetar trabalhos de estruturação científica da Medicina Espírita.


Os médiuns representam os médicos espirituais, que através deles dão a contribuição das observações do outro lado da vida. Os médicos representam a Medicina da atualidade e procuram estabelecer as ligações necessárias para um esforço comum em benefício da Humanidade. Temos assim um aspecto importante do ideal espírita de Kardec: a conjugação do mundo espiritual com o mundo material no trabalho comum de elevação da Terra. Temos ainda a confirmação da tese de Léon Denis, segundo a qual o Espiritismo realiza uma síntese do espiritual e do material no mundo. E também a previsão de Sir Oliver Lodge, grande cientista inglês, de que no Espiritismo, através do túnel da mediunidade, os espíritos e os homens se encontram para tentar no conjunto a solução dos problemas humanos. O que ontem parecia utopia, hoje se mostra como realidade.


A Medicina Espírita implica, portanto, o problema da mediunidade curadora em toda a sua globalidade de manifestações. Havendo sinceridade nessa conjugação, estaremos em face de um dos momentos mais significativos da evolução humana na Terra. Os benefícios que dela podem resultar para o bem da humana são simplesmente incalculáveis. Caberia a Sociedade de Médicos Espíritas de São Paulo encabeçar essa iniciativa cada vez mais necessária.


Entre todas as formas de manifestações mediúnicas, a mais perigosa para os médiuns é a curadora. Não porque os exponha a riscos de saúde, que praticamente não existem numa mediunidade controlada, mas porque os expõe a fascinação das vantagens materiais. Todo médium curador é inevitavelmente assediado por pessoas que querem agradá-lo, que o elogiam, dizem-se seus amigos, dão-lhe presentes e assim por diante. Pouco a pouco o médium se deixa envolver, convence-se da sua importância, torna-se vaidoso e ambicioso.


Com isso desliga-se dos amigos e companheiros desinteressados para cair nas malhas dos interesseiros e tornar-se, por sua vez, um deles. Os laboratórios lhe oferecem comissões no receituário dos seus produtos. Todas as facilidades vão se abrindo para ele e, se não tiver em conta os princípios da moral mediúnica, em breve se transformará num explorador do próximo a que deve auuxiliar com desinteresse. O meio espírita conhece muitos desses casos dolorosos, em que excelentes e humildes médiuns curadores acabaram traindo-se a si mesmos.


São variados os tipos de mediunidade curadora, desde o simples passista e o receitista, o vidente diagnosticador, até o operador, o médium-cirurgião, que tanto pode agir com instrumentos ou apenas com a imposição das mãos, ou ainda os que praticam a cirurgia-simpatética, um dos fenômenos mais estranhos e complexos de todo o fenomenismo paranormal. O desenvolvimento desse tipo de mediunidade processa-se de maneira discreta, geralmente disfarçado na produção de efeitos físicos, de vidência, de doenças súbitas e sem motivo aparente que o atacam e de repente desaparecem. Tem-se a impressão, não raro, de caso de obsessão. Na verdade, o médium está sendo submetido a uma espécie de experimentação de suas possibilidades psicofísicas e de preparação para as suas futuras atividades. Anésio Siqueira, famoso na década de 30, sofreu grave enfermidade que o levou a proximidade da morte.


Os médicos o desenganaram, de repente recuperou-se e começou a fazer curas. Não conhecia Espiritismo e nunca o aprendeu, dava passes fumando cigarro entre os dedos e realizou curas espantosas, tanto espirituais (desobsessão) quanto materiais. José Arigó, roceiro, já na infância via e ouvia espíritos; na adolescência começou a sentir terrores noturnos, foi perseguido por visões assustadoras. Na juventude (era católico) empolgou-se pelo ideal da pureza e santidade e ouvia vozes que lhe aconselhavam a castidade. Ao entrar na maturidade, casou-se e passou por uma fase de equilíbrio em que se mostrava despreocupado, alegre e brincalhão.


Um dia teve de socorrer um amigo que se havia engasgado. Começou ai a sua espantosa mediunidade-cirúrgica. E, com ela, todos os problemas de um homem que era procurado por doentes das mais diversas moléstias e a todos queria atender. Guiado por um espírito autoritário mais generoso, que se dizia o médico alemão Dr. Fritz, morto na primeira guerra mundial, tornou-se ríspido, exigente, de uma franqueza rude, dando a idéia de um novo João Batista que surgia na cidadezinha arcaica e carismática de Congonhas do Campo. Seus modos rústicos pareciam uma couraça destinada a afastar todas as tentações de sua perigosa mediunidade. Foi um dos médiuns mais autênticos e de mediunidade mais produtiva que já passou entre nós. Mas acabou nas ciladas dos interesseiros e morreu tragicamente, ainda moço e vigoroso.


A cirurgia simpatética ou simpática é assim chamada por sua semelhança com a magia-simpática. Arigó a produzia, mas somente em casos especiais. No geral, agia de maneira violenta, com faca ou canivete, cortando o doente de maneira brusca, sem anestesia nem assepsia e comandando com segurança espantosa o fluxo de sangue. Trabalhava as claras, no meio do povo e na presença de médicos conhecidos ou não, e muitas vezes chamava os médicos para assistirem de perto o que ele fazia. O Dr. Sérgio Valle, cirurgião ocular e especialista em hipnose clínica, residente em São Paulo, presenciou de perto várias de suas operações e declarou: "Arigó aplica uma supercirurgia que não conhecemos e não usa a hipnose e nem conhece técnicas hipnóticas." Na prática da cirurgia simpatética Arigó agia sem tocar no doente.


Procedia como a médium Bernarda Torrúbio, mulher do campo, esposa de José Torrúbio, sitiante de Garça, na Alta Paulista. Fazia uma prece pedindo assistência aos espíritos. Estendia as mão sobre o doente sem tocá-lo. Este sentia que mexiam por dentro em seus órgãos doentes, ocorriam-lhe ânsias de vômito, mas quem vomitava era a médium. Vômito geralmente espesso, com grande quantidade de pus e sangue e pedaços de matérias orgânicas. O doente se sentia fraco, abatido como se tivesse passado por uma intervenção cirúrgica. As dores internas confirmavam essa impressão. Durante uns poucos dias as dores continuavam, mas logo começavam a diminuir e desapareciam. A recuperação era rápida e total.


A mediunidade-cirúrgica é muitas vezes acompanhada de fenômenos ocasionais de efeitos físicos. Isso é natural, pois a própria cura e as operações pertencem a essa classificação mediúnica. Bernarda Torrúbio manifestava estranhos fenômenos de transporte de objetos à distância e aparentemente através de portas e janelas fechadas. Em reuniões com Urbano de Assis Xavier, em Marilia, houve notáveis ocorrências dessa natureza, inteiramente inesperadas. Nas pesquisas parapsicológicas esses fenômenos se confirmaram. O Prof. Rhine fez decisivas experiências com animais, para evitar o problema da sugestão, e conseguiu êxitos comprobatórios, dentro de todas as exigências de metodologia científica. As pesquisas de Geley e Osty, na França, mostraram que em todas essas ocorrências existe a emanação de ectoplasma.


Geley chamou de controladores os espíritos que agem nessas ocasiões, provendo e regulando a saída de ectoplasma do organismo mediúnico. Nas experiências soviéticas os cientistas consideraram o ectoplasma como energia radiante emitida pelo perispírito ou corpo espiritual do médium. Crookes chamou-o de força psíquica Notzing colheu porções de ectoplasma e submeteu-os a análise de laboratório, provando que a porção morta desse elemento dissociada do médium, compunha-se de células e outros materiais orgânicos. Não há, pois, milagre, no sentido místico da palavra nessas ocorrências. Há leis naturais que pouco a pouco vão sendo esclarecidas pelas pesquisas científicas.


Os médiuns dotados dessas faculdades precisam ser instruídos doutrinariamente, para saberem como se portar na vida comum e para terem consciência de que os fenômenos não são produzidos por eles, mas por ação dos espíritos. Com isso se livrarão da vaidade tola que os leva a crer em seus poderes pessoais, julgando-se donos deles e capazes de controlá-los por si mesmos. Essa idéia de posse individual os leva também a cair mais facilmente nas ciladas dos aproveitadores. Essa mediunidade exige constante vigilância do médium no tocante aos seus deveres morais e espirituais e a mais plena consciência de suas responsabilidades doutrinárias.

J.Herculano Pires
Do Livro: Mediunidade
Conceituação da Mediunidade e Análise geral dos seus problemas atuais.

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