Avatar aparece num ótimo momento.
Após o fracasso da Conferência do Clima em
Copenhague e no início do Ano da Biodiversidade,
é um brado de alerta sobre nossa péssima
relação com a natureza.
Copenhague e no início do Ano da Biodiversidade,
é um brado de alerta sobre nossa péssima
relação com a natureza.
Merece ser assistido pelos belos efeitos e pela
fotografia extraordinária, porém, mais do que
isso, apresenta uma poderosa mensagem
ecológica: o homem precisa restabelecer sua
conexão coma natureza.
Nos fala também de respeito ao próximo,
homem, animal ou floresta, igual ou diferente de
nós.
O espectador é transportado para a lua Pandora,
habitada pelo povo Na’vi, em um universo de
experiências sensoriais encantadoras, com seres
de formas jamais imaginadas, cores reluzentes e
uma natureza exuberante.
Avatar propõe uma discussão pertinente sobre o
futuro do nosso planeta, a Terra.
Inova ao expor a monstruosidade do ser humano,
personificado no cel. Miles, que destrói um
mundo em perfeita harmonia, com uma
brutalidade chocante, em cenas que provocam
indignação.
Mostra a inescrupulosidade do ser humano, até
onde o homem é capaz de chegar para obter
ganhos econômicos.
Quando a árvore-casa dos Na’vi cai, o
desmatamento da Amazônia, da Mata Atlântica,
o derretimento dos polos, a morte dos corais e
dos oceanos, enfim, todas as desgraças
provocadas pelo homem são evocadas.
Vemo-nos atirando contra a natureza, só porque
debaixo dela se encontra um minério valioso,
que, para os humanos, resolveria a crise
energética, uma vez que em 2154 – ano em que a
trama se passa – não existe mais verde na Terra.
Com a Terra arrasada, segue-se a colonização de
outros mundos. Ao mostrar nossa mesquinhez, o
filme pretende atingir o que ainda resta de
consciência ecológica no ser humano.
O nome da lua, Pandora, é significativo. Na
mitologia, Pandora, a primeira mulher criada por
Júpiter, recebe dos deuses, presentes em forma
de dons, como beleza, persuasão e música.
Do marido, Epimeteu, recebe uma caixa contendo
todos os males, com a advertência de não abri-la.
Mas a curiosidade foi maior, e Pandora abriu a
caixa, liberando pragas que atingiram o homem,
restando apenas a esperança.
Pandora não cuidou de sua caixa, e nós não
estamos cuidando do nosso planeta.
Avatar nos adverte: a Terra é nossa caixa de
Pandora. Se não soubermos preservá-la, será o
nosso fim.
O filme é permeado de esperança. Na lua
Pandora tudo está em equilíbrio. Uma árvore da
vida, a deusa Eywa, sustenta as conexões entre
as raízes de todas as árvores e entre todos os
seres.
É uma teia, como as sinapses que ligam os
neurônios em nosso cérebro. Acaso na Terra os
sistemas também não estão interligados? Esse é
o preceito fundamental da ecologia. Como dizia
José Lutzenberger, em seu Manifesto Ecológico
Fim do Futuro: tudo está relacionado com tudo.
Tudo é uma coisa só.
Embora nossa conexão não se realize
diretamente, como ocorre por meio das tranças
dos Na’vi, com os cavalos (Direhorses), animais
alados (Banshee) ou com a própria terra... ela
existe, só que está perdida pelo nosso
afastamento da natureza.
Avatar nos diz que, se quisermos manter o
direito de habitar na Terra, precisamos colocar-
nos novamente em contato com a natureza.
O personagem principal, Jake Sully, consegue se
libertar da cegueira e da ignorância e perceber a
tempo a catástrofe que os humanos iriam
desencadear em Pandora.
Ao entrar em contato com os costumes dos Na’vi,
Jake Sully, aos poucos, vai compreendendo a
importância da harmonia ecológica de Pandora.
Trata-se, além de conhecer os modos de
alimentação e locomoção, de como respeitar a
vida em todas as suas formas.
Quando a jovem princesa Neytiri diz a ele “Eu
vejo você”, ela não apenas vê, mas sente,
percebe e respeita o outro.
Para vivermos em equilíbrio com a natureza e
com nossos semelhantes, é preciso “vê-los”
profundamente.
Um aspecto interessante é que a vida no avatar
passa a ser mais real do que a “vida real”. Isso
pode instigar-nos a questionar: a vida que
levamos atualmente nos proporciona qualidade
de vida? Não está na hora de buscarmos
qualidade de existência?
O filme nos mostra que as sociedades tidas como
“primitivas”, até mesmo “selvagens”, têm mais
sabedoria, e, geralmente, uma ligação com a
natureza muito mais rica do que a nossa.
Somos responsáveis pelo sistema econômico
falho, excludente, perverso – que, apesar da
crise, surpreendentemente permanece o mesmo
– que, visando ao lucro e ao crescimento
ilimitado, coloca a natureza como uma ‘pedra no
sapato’ para atingir o “desenvolvimento”.
O que nos falta, como mostra Avatar, é
envolvimento.
O próprio nome “desenvolvimento” sugere um
desligamento com o envolvimento, uma total
desconexão com a Mãe Natureza, que só gera
desequilíbrio para todos nós.
Estamos cada vez mais desconectados com a teia
da natureza, preocupados em ganhar dinheiro
custe o que custar.
Mesmo que o preço seja a vida dos que ainda não
nasceram ou até mesmo dos oceanos, das
árvores e dos animais, não cogitamos alterar
nossos hábitos de consumo, extremamente
danosos aos recursos naturais, e, muito menos,
mudar nossa matriz energética altamente
poluente.
Ainda há tempo para salvar a Terra, basta nos
reconectarmos.
“I see you!” – “Eu vejo você!”
Elenita Malta
Nenhum comentário:
Postar um comentário