LIGIA SANTOS TEXTO NA OBVIOUS
As pessoas geralmente possuem certa dificuldade de expressar sentimentos como a tristeza, por exemplo. Diariamente, ao entrar em qualquer uma das redes sociais, é fácil observar um bombardeamento de postagens de momentos repletos de alegria. A felicidade precisa ser gritada por todos os lados, para todas as pessoas (sejam os amigos e principalmente os inimigos) verem e sentirem inveja da vida contente, da viagem adorável e da beleza inesgotável que é propagada. Às vezes, tudo isso não passa de uma súplica por aprovação, justamente porque a vida que se leva, geralmente, não é tão feliz assim.
Um grande professor e historiador Leandro Karnal, uma vez disse que “quando eu não tenho sabor nas coisas que vivo e faço, eu multiplico as coisas que vivo e faço. E falo mais, saio mais, faço mais festas e tenho mais amigos, e viajo mais e não paro de viajar, porque como eu não consigo estar comigo, quero estar em todos os lugares do mundo.” Compreendem-se que para muitos, é preferível a imersão completa na agitação exterior do que a companhia solitária dos (não menos turbulentos) silêncios interiores. De vez em quando, acessar determinadas sensações, recordar algumas lembranças e ouvir aquilo que realmente vocifera, torna-se uma tarefa difícil e dolorida, é preciso força para admitir a tristeza.
Na aclamada animação “Divertida Mente”, é possível ver que esse sentimento é essencial, a Tristeza é uma personagem um pouco atrapalhada, mas que demonstra que as relações não podem ser mecanizadas, e que sofrer é uma das coisas mais comuns entre os seres humanos. É necessário falar sobre ela e enfrentá-la, consciente de que através de momentos tristes as pessoas crescem. Pois, quanto mais as mágoas são guardadas e camufladas, acaba por acontecer um acúmulo nocivo à saúde psíquica, emocional e física.
Em uma das suas crônicas, Martha Medeiros disse “ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido (...) Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.” Faz parte da vida cotidiana saudável, só assim os momentos felizes podem ser exaltados, só assim o crescimento se torna efetivo e real, enfrentando as frustrações, desapontamentos e decepções, aprendem-se a conviver.
A vida não se finda nas redes sociais, até porque há momentos que curam muito mais do que meras curtidas. Permitir as emoções fluírem, ao contrário do que muitos pensam, não é sinônimo de fraqueza, mas sim, de coragem, uma vez que, abandonam-se as rígidas superficialidades e conveniências. Uma dessas formas é através do choro, a partir dele adquire-se uma visão mais límpida da vida, diante das lágrimas, as pessoas se apresentam um pouco mais humanas e sensíveis.
Os homens e as mulheres, os jovens e os idosos, somente amadurecem quando compreendem coisas que antes eram desconhecidas, quando as dores se tornam aprendizados e quando a amargura vira perdão, consequente permissão para a vida ter uma continuidade. Que não falta a alegria para viver, nem tristeza para saber viver.
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