"SER O QUE SE É."
É necessário apreciarmos o que somos. Quando
sentimos inveja, supervalorizamos a figura do outro e subestimamos tudo que
temos e conquistamos. É preciso ser o que é. Nem colocarmos as criaturas, num
pedestal, nem nos rebaixarmos à condição de capachos. Hammed
A RÃ E O BOI
Uma rã vê um
boi que lhe parece muito belo por causa do seu porte avantajado.
Ao se ver tão
pequena, pois o seu tamanho correspondia ao de um ovo, a rã, invejosa, começa a
alargar-se, a inchar-se e a esforçar-se para igualar-se em grandeza física ao
boi.
E, dirigindo-se
a outra rã, perguntou-lhe:
- Olbe bem,
minha irmã! Já aumentei o bastante?
- Absolutamente
não - respondeu a companheira.
- E agora? -
insiste a invejosa. - Já estou parecida com ele?
- De maneira
alguma - confirmou a outra. A rã estufou mais um pouco e perguntou novamente:
- E agora, então?
Como estou?
- Você nem
sequer chega perto dele.
A rã idiota
inchou-se tanto que estourou.
O mundo está
cheio de pessoas insatisfeitas.
Todo burguês
quer construir um palácio. Qualquer principezinho tem embaixadores.
Todo marquês
quer ter pajens como o rei os tem.
SER O QUE SE É
Invejar o outro
é reconhecer ou declarar abertamente ser inferior a ele. A inveja evidencia a
mediocridade; o invejoso não suporta os atributos, condições e qualidades
alheias.
Há inúmeras
expressões metafóricas utilizadas quando nos referimos a esse sentimento:
roer-se de inveja, a inveja dói, contaminado pela febre da inveja, cego de
inveja, a inveja queima ou envenena. Socialmente, existem muitas
"rãs" que se arrebentam de inveja.
A inveja não
está necessariamente associada a um objeto. Sua característica principal é a
comparação desfavorável do status de uma pessoa em relação à outra. O invejoso
sempre acha que o culpado pelo seu negativo estado de espírito é o sucesso do
outro, e nunca ele mesmo.
É necessário
apreciarmos o que somos. Quando sentimos inveja, supervalorizamos a figura do
outro e subestimamos tudo que temos e conquistamos. É preciso ser o que se é.
Nem colocarmos as criaturas num pedestal, nem nos rebaixarmos à condição de
capachos.
Devemos ficar
atentos à sensação de inveja, porque ela nos indica uma vocação inconsciente,
um desejo reprimido.
A criatura
invejosa ignora seu potencial, priorizando o crescimento alheio no lugar do
próprio crescimento. Invejar não é somente querer ter o que o outro possui; é
também tentar impedir que ele não tenha aquilo que conquistou.
A literatura
psicanalítica diz que o sentimento de inferioridade existente na intimidade do
invejoso é uma manifestação de conflito entre o "eu real" e o
"eu ideal", entre o que a criatura é e o que ela gostaria de ser;
entre o que a criatura faz ou sente e o que ela pensa que deveria fazer ou
sentir.
Inveja é uma
tendência de privar o outro daquilo que lhe dá prazer. É querer destruir em
outrem o que ele tem de bom porque nós não temos igual.
Podemos transformar a inveja em admiração. É
muito benéfico e útil a nós mesmos essa mudança. Em vez de cobiçarmos o outro
pelo que ele é, tentemos encará-lo como uma meta ou padrão a ser seguido.
No complexo de
inferioridade, há um reconhecimento de fraqueza e inadequação, pois as pessoas
que se sentem inferiores geralmente partem para uma busca inglória, uma postura
competitiva interminável. Tentam eliminar esses sentimentos desagradáveis
mostrando superioridade, sem medir esforços ou custos emocionais.
"O mundo
está cheio de pessoas insatisfeitas. Todo burguês quer construir um palácio.
Qualquer principezinho tem embaixadores. Todo marquês quer ter pajens como o
rei os tem. "
Certas
"rãs" na vida social, por sentimento de inferioridade, quase sempre
reagem diante do mundo exterior com atitudes de superioridade, acreditando
serem "prima-donas" ou, no mínimo, pessoas portadoras dos melhores
critérios de avaliação.
A inveja tende
a produzir em nós a rebeldia. Pode ser entendida como um inconformismo à lei
natural, como uma suposição falsa sobre nossa condição pessoal, como a
impressão infundada de nos considerarmos "seres muito especiais", em
vez de percebermos que podemos e devemos compartilhar com todos a diversidade
existencial. É essa compreensão que nos proporcionará bons relacionamentos,
sensação de completude e bem-estar.
CONCEITOS-CHAVE
A - ACEITAÇÃO
Aceitação não é
adaptar-se a um modo conformista e triste de como tudo vem acontecendo, nem
suportar e permitir qualquer tipo de desrespeito à nossa pessoa; antes, é ter a
habilidade necessária para admitir realidades, avaliar acontecimentos e
promover mudanças ( ... )." (do livro "Renovando Atitudes", pág.
133, ditado por Hammed - Boa Nova Editora)
B - COMPLEXO DE INFERIORIDADE
A raiz do
complexo de inferioridade é o vazio existencial que sentimos quando não somos
aceitos pelos outros. Por isso, damos a mãos alheias o poder de decidir nossos
caminhos e renunciamos inconscientemente à nossa capacidade natural de conduzir
a própria vida.
C - REBELDIA
O rebelde está
insatisfeito com o status quo e, por não saber como mudar o mundo íntimo, quer
a todo custo mudar o mundo externo. Rebeldia sem direção, na melhor das
hipóteses, é energia desperdiçada; na pior, pode tornar-se uma força
autodestrutiva e socialmente perigosa.
MORAL DA HISTÓRIA
Muitas vezes,
esquecemo-nos de que a fonte para suprir as nossas necessidades está em nós,
não nos outros. Cada criatura possui em si um continente de potenciais por
descobrir. Feliz daquele que age como um desbravador da própria alma. Todo ser
vivo tem suas peculiaridades; aceitá-las é prova de sabedoria. Nós somos
absolutamente sós no mundo. Construímos e prosseguimos de modo contínuo,
elaborando a cada nova encarnação um capítulo do livro de nossa existência. Só temos
como referência as próprias experiências, ou seja, o acúmulo de nossos
conhecimentos do presente e do pretérito. Na verdade, nós não podemos copiar do
outro uma forma certa de viver, porque somente temos a nós como bússola. Tudo o
que fazemos, falamos e pensamos está revestido de nossas interpretações,
clareadas sob o ponto de vista das vivências pessoais. Cada vida é única e
extraordinariamente incomparável.
REFLEXÕES SOBRE ESTA FÁBULA E O EVANGELHO:
"( ... )
Haverá maiores tormentos que aqueles causados pela inveja e o ciúme? Para o
invejoso e o ciumento não há repouso; estão perpetuamente em febre; o que eles
não têm e o que os outros possuem lhes causam insônia; os sucessos dos seus
rivais lhes dão vertigem ( ... )." (ESE, cap. V, item 23, Boa Nova
Editora)
"O coração
tranqüilo é a vida da carne; a inveja, porém, é a podridão dos ossos."
(Provérbios, 14:30.)
"NOSSA INVEJA DURA SEMPRE MAIS QUE A
FELICIDADE DAQUELES QUE INVEJAMOS." - LA ROCHEFOUCAULD
HAMMED
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