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Este artigo trata de mudanças. Mudanças que nos são impostas e mudanças que nós mesmos devemos provocar. Para começar, você entende bem o significado da palavra “paradigma”? Quase todos os dias ouvimos alguém dizer que precisamos “quebrar paradigmas”. No começo, eu imaginava um paradigma como uma espécie de vidraça, pronta para receber uma pedrada.
Pois paradigma significa “cultura geral vigente”. Ou seja, é a maneira como as pessoas em conjunto veem um fato, entendem um fenômeno, criam uma crença. Quebrar paradigmas significa, portanto, mudar uma crença disseminada, contrariar o “senso comum”. Hoje em dia, “quebrar paradigmas” virou uma espécie de moda, de atividade própria dos empreendedores. No entanto, devemos lembrar que paradigmas sempre existem e que quando se abandona um se cria outro. Não nos livramos de paradigmas, apenas os substituímos.
Tanto nas ciências naturais como nas ciências humanas existem paradigmas, e os mesmos podem ser igualmente quebrados e modificados. A diferença é que, nas naturais, isso não modifica os fatos, enquanto nas humanas, sim. O homem acreditou por séculos que o sol girava em torno da Terra. Quando Nicolau Copérnico e sua turma disseram que era o contrário, foi uma tremenda quebra de paradigma, que resultou até em julgamentos pelos tribunais da Inquisição. Mas para a Terra e para o sol pouco importa o que pensamos. Os astros continuaram a mover-se do mesmo jeito. Ou seja, quando mudamos nossa crença sobre o fato, ele não se altera.
Já nas ciências humanas não é assim que acontece. Uma mudança de paradigma interfere no fato. Enquanto acreditávamos que a mulher só era capaz de realizar trabalhos domésticos, era apenas isso que ela fazia. Hoje acreditamos que ela pode fazer isso e muito mais, e ela faz. O paradigma mudou o fato ou o fato mudou o paradigma? Se pensarmos que podemos, podemos, se pensamos que não podemos, não podemos. Paradigmas versus fatos.
É nisso que reside a responsabilidade de quebrarmos paradigmas nas ciências humanas, pois mudamos o comportamento através da mudança do pensamento. Mas é também nesse ponto que reside a beleza da liberdade criativa do Homem. Com sua capacidade infinita de criar e renovar-se, o Homem tem o poder de mudar a si mesmo e ao mundo que o rodeia.
Se, por um lado a sociedade cria paradigmas através do inconsciente coletivo, por outro, cada pessoa também cria paradigmas a seu próprio respeito, e são justamente esses que merecem mais nossa atenção. A autoapreciação é fundamental para uma convivência saudável da pessoa com ela mesma. Uma permanente verificação de sua escala de valores, e da definição de seus limites e de seus alcances, atualiza a consciência da pessoa.
Como saber se eu posso empreender meu próprio negócio se eu tenho uma visão incompleta de minhas próprias potencialidades? Como saber se, ao recusar uma importante missão na empresa, eu não estou tendo uma visão pequena de minhas próprias potencialidades? É clássico que confiamos só em quem conhecemos. A autoconfiança obedece à mesma lógica. Portanto, a permanente autoanálise é necessária para que possamos nos superar sempre. A maioria das coisas que não fazemos, em verdade nem tentamos fazer, pois não confiamos em nossos potenciais. Paradigmas, nada mais que paradigmas.
Poderíamos definir o Homem como um ser capaz de quebrar paradigmas e, através disso, renovar-se permanentemente. Somos como o inseto, que para crescer tem que quebrar seu envoltório rígido que, se por um lado o protege, por outro o aprisiona. O inseto rompe seu exoesqueleto várias vezes durante sua vida, de maneira um pouco traumática, e isso o deixa vulnerável por algumas horas. O inseto quebra o envoltório rígido para crescer. O Homem quebra paradigmas rígidos também para crescer. Às vezes, crescer dói...
Eugenio Mussak é professor do MBA da FIA e consultor da Sapiens Sapiens.
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