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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

"Se nós não tivéssemos defeitos não teríamos tanto prazer em notá-los nos outros." "Nossas virtudes, na maioria das vezes, são vícios disfarçados" .


Um anjo arranca a máscara de um busto na gravura que ilustra a capa da primeira edição francesa em 1665, lançada a um ano depois da edição holandesa.
Este desenho no frontispício do livro valida perfeitamente o que sentencia seus pensamentos: "Nossas virtudes, na maioria das vezes, são vícios disfarçados" .
Este livro foi redigido na mesma época em que foram escritas as famosas "Fábulas". 
E como La Fontaine deixou uma homenagem em sua obra à La Rochefoucauld, gostaríamos igualmente de homenageá-lo e deixar aqui evidenciado, nosso respeito e admiração por este ilustre pensador e prosador francês.
Eis aqui um trecho transcrito do livro "Máximas e Reflexões", intitulado a Relação dos Homens Com os Animais': que bem corresponde as idéias das fábulas de La Fontaine:

"Há tantas espécies de homens quantas de animais, e são os homens para os outros homens o que as diferentes espécies de animais são entre si, e umas para as outras. Quantos homens não vivem do sangue e da vida dos inocentes!
Uns, como tigres, são sempre bravios e cruéis; outros, como leões, guardam certa aparência de generosidade; outros, como ursos, são ávidos e grosseiros; outros, como lobos, são raptores e impiedosos; outros, como raposas que vivem de sua indústria, têm por ofícios lograr.
Quantos homens não têm parte com os cães! Destroem a própria espécie, caçam para o prazer de quem lhes dá de comer, às vezes seguem os donos, outras lhe guardam a casa. Há lebréus de guerra que devem a vida ao próprio valor, que têm nobreza na coragem; há dogues encarniçados que só o furor têm por qualidade; há cães menos ou mais inúteis que ladram sempre e só às vezes mordem, há mesmo os cães de guarda que nem comem o que é do dono nem deixam os outros comerem. 
Há símios e macacas que agradam pelas maneiras, que têm espírito e fazem sempre o mal, há pavões que só beleza têm, cujo canto desagrada e que destroem o lugar que habitam.
Há pássaros que só se recomendam pela plumagem e pelas cores. 
Quantos papagaios não falam sem cessar e nunca ouvem o que dizem; quantas pegas e gralhas não se deixam amansar para melhor furtar; quantas aves de rapina não vivem só da rapina; quantas espécies de animais pacíficos e tranquilos não servem só de comida aos outros animais!
Há gatos, sempre à espreita, maliciosos e infiéis, que têm a pata de veludo; há víboras de língua venenosa cujo restante tem emprego, há aranhas, moscas, pulgas e percevejos sempre incômodos e insuportáveis; há sapos que só dão pavor e veneno; há corujas que temem a luz. Quantos animais não vivem debaixo da terra somente para se preservar! Quantos cavalos não empregamos em tantas coisas e não abandonamos quando já não servem; quantos bois não trabalham a vida toda para enriquecer aquele que lhe impõe o jugo; quantas cigarras que passam a vida a cantar; lebres que de tudo têm medo; coelhos que se assustam e sossegam num prisco; porcos que vivem na devassidão e no lixo; canários domesticados que logram seus semelhantes e os atraem para a rede; corvos e abutres que só vivem de podridão e corpos mortos! 
Quantas aves de arribação não vão de um mundo para o outro e se expõem a perigos em busca da vida! 
Quantas andorinhas sempre à procura de bom tempo; besouros irrefletidos e sem rumo; borboletas que anseiam pelo fogo que as queima; abelhas que respeitam a rainha e com regras e indústria se mantêm! 
Quantos zangões errantes e preguiçosos que procuram se estabelecer às expensas das abelhas! 
Quantas formigas cuja previdência e economia lhes alivia as necessidades! 
Quantos crocodilos que fingem derramar lágrimas para devorar quem com elas se comove! E quantos animais subjugados porque ignoram sua força!
Todas essas qualidades têm o homem, e pratica com os outros homens tudo o que praticam os animais de que falamos.

Hammed 

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