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sábado, 3 de dezembro de 2011

No reino das borboletas



À beira de um charco, formosa borboleta, fulgurando ao crepúsculo, pousou sobre um ninho de larvas e falou para as pequenas lagartas, confusas:

Não temam! Sou sua irmã de raça!
Venho para lhes trazer esperança. Nem sempre permanecerão coladas às ervas do pântano! Tenham calma, fortaleza e paciência.
Esforcem-se para não sucumbir aos golpes da ventania que, de quando em quando, varre a paisagem.
Esperem! Depois do sono que as aguarda, todas acordarão com asas de puro veludo, refletindo o esplendor solar...
Então, não mais se arrastarão, presas ao solo úmido e triste. Adquirirão preciosa visão da vida, pois poderão subir muito alto e seu alimento será o néctar das flores...
Viajarão deslumbradas, contemplando o mundo, sob novo prisma!
Observarão o sapo que nos persegue, castigado pela serpente que o destrói, e verão a serpente que fascina o sapo, fustigada pelas armas do homem.
Enquanto a mensageira fez ligeira pausa, ouviam-se exclamações admiradas:
Ah, não posso crer no que vejo!
Que misteriosa criatura!
Será uma fada milagrosa?
Nada possui de comum conosco...
Irradiando o suave aroma do jardim de onde viera, a linda visitante sorriu e continuou:
Não se iludam! Não sou uma fada celeste! Minhas asas são parte integrante da nova forma que a natureza lhes reserva.
Ontem, eu vivia com vocês; amanhã viverão comigo! Flutuarão no imenso espaço, em voos sublimes em plena luz. Libertas do lodaçal, se elevarão felizes.
Conhecerão a beleza das copas floridas e o saboroso néctar das pétalas perfumadas. Contemplarão a altura e a amplitude do firmamento...
Logo após, lançando carinhoso olhar à família alvoroçada, distendeu as asas coloridas e, voando com graciosidade, desapareceu no infinito azul.
Nisso, chegou ao ninho a lagarta mais velha do grupo, que estava ausente, e, ouvindo os comentários empolgados das companheiras mais jovens, ordenou irritada:


Calem-se e escutem! Tudo isso é insensatez, mentiras, divagações...


Não nos iludamos! Nunca teremos asas! Ninguém deve filosofar...
Somos lagartas, nada mais que lagartas. Sejamos práticas, no imediatismo da própria vida. Esqueçam-se de pretensos seres alados que não existem.
Precisamos simplesmente comer e comer... Depois vem o sono, a morte... E o nada... Nada mais...
As lagartas calaram-se, desencantadas.
Caiu a noite e, em meio à sombra, a lagarta-chefe adormeceu, sem despertar no outro dia. Estava completamente imóvel.
As irmãs, preocupadas, observavam curiosas o fenômeno...
Depois de algum tempo, para espanto de todas, a ignorante e descrente orientadora surgiu como veludosa borboleta, de asas leves e ligeiras, a bailar no ar...


* * *
À semelhança da formosa borboleta que desceu às faixas escuras onde rastejavam suas irmãs lagartas, um dia a Humanidade também recebeu a visita de sublime anjo, que veio trazer consolo e esperança.
Falou da vida estuante, além do casulo físico.
E para provar que o que dizia é realidade, Ele próprio, após desvencilhar-se do corpo físico, surgiu mais livre e mais brilhante que antes.
Subiu, com a leveza de anjo alado, e desapareceu na imensidão azul, diante de quinhentas testemunhas, admiradas, na distante Galiléia...
E, mais de dois milênios depois, ainda existem aqueles que preferem acreditar que o que precisamos fazer é comer, comer, dormir e esperar o nada... Nada mais...



 Do livro Contos e apólogos, pelo Espírito Irmão X, psicografia de
Francisco Cândido Xavier,
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 29.

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