Antes de ser alguma coisa, o jovem é alguém
Nas minhas andanças, escutas e até leituras, dois pensamentos se colocam todo tempo no discurso e no (quase) inconsciente de pessoas das mais diversas idades: é do jovem “ser” e do jovem “vir a ser” . Ambas são pertinentes, mas esta última (‘ vir a ser”) já se tornou quase um discurso pronto que precisa, de certa forma, ser “reconstruído” e repensado.
Já paramos para pensar que em frases como “olha o seu futuro”, “jovem: futuro do Brasil”, “futuro do amanhã”, podemos estar jogando toda uma carga de responsabilidade em cima do jovens, como que apenas eles têm a solução do país na mão? Isto numa sociedade considerada adultocêntrica, que muitas vezes julga jovens como irresponsáveis… bem complexo, não?
Diante disso, será que o futuro do próprio jovem acaba encobrindo – dos adultos e até dos próprios jovens - que ele já é alguém? O aprendizado, o lazer, as amizades, os trabalhos, podem ser importantes para o futuro, mas também são importantes para viver o hoje, porque é hoje que ele/ela é jovem. Neste contexto, entendo a urgência das políticas públicas de juventude no nosso país, elas são necessárias para estes jovens de hoje, porque é hoje que eles/as são jovens e estão lutando não apenas para a geração futura, eles/as querem sentir o resultado não só nos seus netos. No entanto, claro que entende a necessidade de se tornarem políticas de Estado, porque continuarão a ser políticas para os jovens de amanhã, independente de que governo entre ou saia. Não estamos aqui diminuindo a importância da dimensão do futuro, de projeto de vida (que infelizmente falta a muitos jovens de nosso país), mas compreendendo que esta não pode servir de desculpa para ser negado o presente.
Claro que a falta de perspectiva e a presentificação exagerada da vida, do viver o hoje, o aqui e o agora são coisas perigosas. É muito importante o/a jovem se projetar, calcular tempo, sentir o chão, ter projetos pessoais e coletivos; pensar em si e no próximo, valorizar a própria vida e a do próximo, desenvolver percepção comunitária, desconstruindo o individualismo vigente.
No entanto, podemos parar para pensar quando repetimos discursos ou escutamos “olha o seu/ meu futuro”, em que sentido isto está sendo posto? Será que “pra ser alguém” fulaninho (um individuo jovem) precisa fazer isso ou aquilo… Por quê? Por que fulaninho num já é considerado alguém? Por que ele não é reconhecido como um sujeito? (e mais: por que pra “ser alguém” é necessário seguir certos parâmetros?). Como educadores, devemos compreender que o/a jovem não é só uma caixa vazia que precisa ser preenchida (ou até “entupida”). Dom Bosco, no seu encontro com Bartolomeu Garelli, começou sua ação educativa a partir do que ele era e do que ele sabia (“sabe assobiar?”), num diálogo amigo.
O/A jovem não é só um “vir a ser” alguma coisa, ele/a já é alguém e precisa ser reconhecido e reconhecer-se como tal em todos momentos. Pois, não se é jovem só em momentos de irresponsabilidade ou consumo, o jovem é jovem o tempo todo. Ele/a é jovem na escola, no trabalho, com os amigos, nas ruas, com os pais, até com os filhos, se já os tiver. O jovem é um/a cidadão/ã, é um sujeito de direitos com as especifidades do ser jovem, que precisam ser compreendidas pela sociedade e muitas vezes garantidas por lei.
Assim, não dá para pensar e falar só no futuro e esquecer de ter o presente e a realidade, mas também viver só e puramente o presente, esquecendo do futuro, torna a vida vazia e sem sentido… é buscar o equilíbrio, pois muito mais do que opostos, Presente e futuro são complementares. Pensemos nisso nas nossas ações educativas…
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