O que é a pedagogia diferenciada?É uma característica que deveria permear qualquer metodologia de ensino. Consiste em reconhecer que toda turma tem alunos diferentes e que é preciso orientar a ação pedagógica levando isso em conta. Diferenciar é ensinar de modo que cada aluno esteja sempre diante de situações didáticas propícias para aprender. Isso exclui aquelas que não trazem desafio e as que propõem uma missão fora do alcance. O interessante é que a diferenciação é um conceito presente em muitas áreas. Costumo dar o exemplo da medicina. Um médico não pode dar o mesmo medicamento a todos os doentes. É preciso fazer diagnósticos individuais e adaptar o tratamento a cada um.
Como realizar a diferenciação do ensino em escolas grandes?A pedagogia diferenciada é uma escolha por um sistema de Educação. Requer uma mudança na formação dos professores, na gestão das escolas e no trabalho na sala de aula. Operacionalizar tudo isso em escolas com centenas de alunos é complicado. Muitas vezes, elas são organizadas como quartéis, com normas rígidas de horário, circulação e mobiliário. Contudo, esse quadro não é um obstáculo. Uma instituição grande pode ser estruturada em subconjuntos. Em diferentes atividades e disciplinas, os estudantes são divididos em grupos, que terão desafios distintos em termos de complexidade, com natureza compatível com o nível e as necessidades de cada um.
Que critérios utilizar na formação dos grupos para que todos aprendam?Antes de tudo, não estamos falando em separação por nível - melhores com melhores, piores com piores. As pesquisas mostram que, quando se colocam alunos semelhantes juntos, os piores têm menos ambição para avançar. Os grupos também não devem ser estáveis. É preferível que eles sejam focados em dificuldades particulares imediatas e possam ser recompostos quando os objetivos de aprendizagem forem atingidos. Isso exige a atenção do professor ou do gestor para avaliar quantos alunos estão efetivamente aprendendo, quantos saíram do processo, quantos se entediaram.
Há exemplos concretos de sucesso da pedagogia diferenciada?Há alguns. Há um caso emblemático em Luxemburgo. Lá, a diferenciação ocorre numa instituição de Ensino Médio, etapa em que muitos acham impossível fazer esse trabalho. Nessa escola, são ensinadas as mesmas disciplinas, nos mesmos horários, em três turmas da mesma série. Os professores entram em acordo em relação aos objetivos e cada um trabalha sua turma durante quatro semanas. Depois desse período, eles fazem um balanço do que cada estudante aprendeu. Na quinta e na sexta semana, eles redistribuem os alunos das três turmas em grupos de desenvolvimento e de recuperação. Depois, eles voltam para outro ciclo de quatro semanas em turmas tradicionais, seguindo por mais uma ou duas semanas de nivelamento. Não é um esquema perfeito, mas ataca o problema da desigualdade de aprendizagem pela raiz.
Em termos de organização do espaço, como deve ser uma escola que dê atenção a quem mais precisa? Uma escola construída para uma pedagogia diferenciada não é um retângulo. Exige flexibilidade, com locais grandes, para reunir todos os alunos, e outros menores, para os trabalhos em grupo. É preciso pensar em modelos para a sala de aula com mesas para equipes ou com a possibilidade de juntar carteiras. No Brasil, conheci uma escola que tinha mesas hexagonais, em que os alunos ficam sempre reunidos de seis em seis. Quem não tem uma arquitetura conveniente vai precisar um pouco mais de energia e inventividade para a diferenciação, sempre respeitando os princípios do agrupamento e a posterior reunificação.
Para a diferenciação dar certo, os estudantes precisam ficar mais tempo na escola? Se todo o resto já foi modificado - as ferramentas didáticas, a avaliação, o atendimento -, não é necessário aumentar o número de horas na sala de aula. Segurar os alunos com dificuldade além do período letivo costuma ser mal vivenciado por eles e quase nunca repõe as defasagens. O primordial é rever o tempo que o professor vai dedicar a cada aluno. Diferenciar pressupõe que o docente dê mais de seus recursos e habilidades aos que precisam mais e deixar aqueles que se viram bem trabalhar com os colegas.
Muitos professores sofrem com esse dilema. Pensam que é injusto não dedicar o mesmo tempo a todos. Ensinar um aluno que vai bem a ler, que tem vontade de aprender e valoriza a leitura está ao alcance de qualquer professor. Há carência de profissionais qualificados para trabalhar com os alunos que vêm de um entorno em que não se lê nem se encoraja a leitura. É para isso que precisamos de bons docentes.
Os professores estão preparados para trabalhar com a diferenciação?Não. Nem na Europa. Não conheço nenhum país em que a formação inicial contemple esse domínio a ponto de ser bem praticado. É preciso recorrer à formação em serviço dentro da escola para resolver algumas lacunas.
Quais os primeiros passos da formação em serviço para dar mais a quem mais precisa?O diretor ou o coordenador podem fazer um balanço das competências e ver os pontos fortes e fracos da equipe. Em seguida, é necessário começar um processo de orientação de cada docente. Essa não é apenas uma tarefa que consiste em indicar um ou outro curso e pronto. É um trabalho que deve tratar do sofrimento do professor, de eventual vontade de abandonar a carreira, dos alunos de que o professor não gosta e dos pais que ele detesta. Nem nos lugares em que há tédio, desespero e cansaço mental por parte de alguns docentes os formadores trabalham nessa dimensão psicossociológica.
Não há o risco de que esse trabalho se esgote nas queixas, sem avançar em mudanças efetivas?É possível. Entretanto, segundo minha experiência, as pessoas concordam em experimentar outras maneiras de trabalhar quando há espaço para a queixa sem haver ridicularização da situação. Os formadores precisam ouvir os professores, estabelecendo um espaço de diálogo e de confiança, em que o sentido das tarefas seja discutido. Levar a equipe a se questionar sobre o fracasso escolar é prioridade. Quando se consegue fazer isso, a gente coloca as pessoas em movimento.
Como realizar a diferenciação do ensino em escolas grandes?A pedagogia diferenciada é uma escolha por um sistema de Educação. Requer uma mudança na formação dos professores, na gestão das escolas e no trabalho na sala de aula. Operacionalizar tudo isso em escolas com centenas de alunos é complicado. Muitas vezes, elas são organizadas como quartéis, com normas rígidas de horário, circulação e mobiliário. Contudo, esse quadro não é um obstáculo. Uma instituição grande pode ser estruturada em subconjuntos. Em diferentes atividades e disciplinas, os estudantes são divididos em grupos, que terão desafios distintos em termos de complexidade, com natureza compatível com o nível e as necessidades de cada um.
Que critérios utilizar na formação dos grupos para que todos aprendam?Antes de tudo, não estamos falando em separação por nível - melhores com melhores, piores com piores. As pesquisas mostram que, quando se colocam alunos semelhantes juntos, os piores têm menos ambição para avançar. Os grupos também não devem ser estáveis. É preferível que eles sejam focados em dificuldades particulares imediatas e possam ser recompostos quando os objetivos de aprendizagem forem atingidos. Isso exige a atenção do professor ou do gestor para avaliar quantos alunos estão efetivamente aprendendo, quantos saíram do processo, quantos se entediaram.
Há exemplos concretos de sucesso da pedagogia diferenciada?Há alguns. Há um caso emblemático em Luxemburgo. Lá, a diferenciação ocorre numa instituição de Ensino Médio, etapa em que muitos acham impossível fazer esse trabalho. Nessa escola, são ensinadas as mesmas disciplinas, nos mesmos horários, em três turmas da mesma série. Os professores entram em acordo em relação aos objetivos e cada um trabalha sua turma durante quatro semanas. Depois desse período, eles fazem um balanço do que cada estudante aprendeu. Na quinta e na sexta semana, eles redistribuem os alunos das três turmas em grupos de desenvolvimento e de recuperação. Depois, eles voltam para outro ciclo de quatro semanas em turmas tradicionais, seguindo por mais uma ou duas semanas de nivelamento. Não é um esquema perfeito, mas ataca o problema da desigualdade de aprendizagem pela raiz.
Em termos de organização do espaço, como deve ser uma escola que dê atenção a quem mais precisa? Uma escola construída para uma pedagogia diferenciada não é um retângulo. Exige flexibilidade, com locais grandes, para reunir todos os alunos, e outros menores, para os trabalhos em grupo. É preciso pensar em modelos para a sala de aula com mesas para equipes ou com a possibilidade de juntar carteiras. No Brasil, conheci uma escola que tinha mesas hexagonais, em que os alunos ficam sempre reunidos de seis em seis. Quem não tem uma arquitetura conveniente vai precisar um pouco mais de energia e inventividade para a diferenciação, sempre respeitando os princípios do agrupamento e a posterior reunificação.
Para a diferenciação dar certo, os estudantes precisam ficar mais tempo na escola? Se todo o resto já foi modificado - as ferramentas didáticas, a avaliação, o atendimento -, não é necessário aumentar o número de horas na sala de aula. Segurar os alunos com dificuldade além do período letivo costuma ser mal vivenciado por eles e quase nunca repõe as defasagens. O primordial é rever o tempo que o professor vai dedicar a cada aluno. Diferenciar pressupõe que o docente dê mais de seus recursos e habilidades aos que precisam mais e deixar aqueles que se viram bem trabalhar com os colegas.
Muitos professores sofrem com esse dilema. Pensam que é injusto não dedicar o mesmo tempo a todos. Ensinar um aluno que vai bem a ler, que tem vontade de aprender e valoriza a leitura está ao alcance de qualquer professor. Há carência de profissionais qualificados para trabalhar com os alunos que vêm de um entorno em que não se lê nem se encoraja a leitura. É para isso que precisamos de bons docentes.
Os professores estão preparados para trabalhar com a diferenciação?Não. Nem na Europa. Não conheço nenhum país em que a formação inicial contemple esse domínio a ponto de ser bem praticado. É preciso recorrer à formação em serviço dentro da escola para resolver algumas lacunas.
Quais os primeiros passos da formação em serviço para dar mais a quem mais precisa?O diretor ou o coordenador podem fazer um balanço das competências e ver os pontos fortes e fracos da equipe. Em seguida, é necessário começar um processo de orientação de cada docente. Essa não é apenas uma tarefa que consiste em indicar um ou outro curso e pronto. É um trabalho que deve tratar do sofrimento do professor, de eventual vontade de abandonar a carreira, dos alunos de que o professor não gosta e dos pais que ele detesta. Nem nos lugares em que há tédio, desespero e cansaço mental por parte de alguns docentes os formadores trabalham nessa dimensão psicossociológica.
Não há o risco de que esse trabalho se esgote nas queixas, sem avançar em mudanças efetivas?É possível. Entretanto, segundo minha experiência, as pessoas concordam em experimentar outras maneiras de trabalhar quando há espaço para a queixa sem haver ridicularização da situação. Os formadores precisam ouvir os professores, estabelecendo um espaço de diálogo e de confiança, em que o sentido das tarefas seja discutido. Levar a equipe a se questionar sobre o fracasso escolar é prioridade. Quando se consegue fazer isso, a gente coloca as pessoas em movimento.
BIBLIOGRAFIA
Pedagogia Diferenciada - Das Intenções à Ação, Philippe Perrenoud
Pedagogia Diferenciada - Das Intenções à Ação, Philippe Perrenoud
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