Pilpay é o suposto autor duma coleção de fábulas, chamadas "Fábulas de Pilpay", que teve origem numa antiga coleção índica, escrita em sanscrito e intitulada "Panchatantra" Foi primeiro traduzida para o pahlavi cêrca do anos 550 e subseqüentemente transmitida através do árabe a todos os povos da Europa. Encontram-se versões em malaio, mongol e afghen. R. Zanchett
A PERDIZ E O FALCÃO -
A PERDIZ E O FALCÃO
Uma perdiz, disse Zirac, passeava e cantava no sopé duma montanha. Cantava tão agradavelmente que um falcão, que por acaso andava por ali voando, ouviu sua voz e para ela se dirigiu querendo delicadamente travar conhecimento.
- Ninguém, disse ele para si, pode viver sem um amigo; e dizem os sábios que aqueles que não tem amigos estão como que com uma doença perpétua.
Pensando assim ia dirigir-se à perdiz; mas ela, vendo-o, escondeu-se numa toca, tremendo de terror.
O falcão seguiu-a, e surgindo à entrada da toca, disse: - Cara perdiz, confesso que até agora não tenho me mostrado amável com você, visto que não vos conhecia os predicados; mas a minha boa sorte me fez conhecer o seu canto, peço-lhe que me deixe falar com você, para lhe oferecer a minha amizade e pedir a sua.
- Tirano, respondeu a perdiz, deixe-me. Não adianta tentar reconciliar a água com o fogo!
- Amabilíssima perdiz, respondeu o falcão, afaste esses temores inuteis, e se convença de que a estimo e desejo que possamos nos conhecer melhor; se eu tivesse outro propósito não estaria aqui pedindo tão amigavelmente para sair da toca. Acredite-me, possuo tão boas garras que poderia ter apanhaho uma dúzia de perdizes nesse tempo que estou lhe falando. Estou certo de que você tem muitas razões para ser feliz com minha amizade; primeiro porque nenhum outro falcão lhe fará mal enquanto estiver sob minha proteção; em segundo lugar, porque estando no meu ninho será respeitada por todos; e, finalmente, lhe arranjarei um perdiz macho para acompanhá-la e dar-lhe as delícias do amor e da maternidade.
- Custa-me acreditar que possa ser tão amável comigo, respondeu a perdiz; Mas, mesmo se isso for verdade, não devo aceitar sua proposta; porque você é o príncipe das aves, tem grande força, e eu sou apenas uma fraca perdiz. Quando fizer alguma coisa que lhe desagrade, não deixará de me matar!
- Não, não, disse o falcão, não se assuste; as culpas dos amigos devemos sempre perdoar. E, portanto, nunca lhe farei mal algum.
Coversaram ainda mais neste sentido, e muitas objeções foram levantadas e respondidas satisfatoriamente. O falcão mostrou-se tão amigável que a perdiz acabou concordando em sair da toca.
Mal tinha saido da toca, o falcão abraçou-a ternamente e a levou para o seu ninho, onde durante dois ou três dias a tratou com todo o carinho e atenção. A perdiz, contente por ser tão bem tratada, sentiu-se segura e começou a falar tudo o que pensava sobre as maldades e selvageria das aves de rapina. Isso começou a ofender o falcão, mas ele sempre disfarçava para não contrariá-la. Um dia, porém, ele infelizmente adoeceu e não pode mais sair para caçar. Naturalmente começou a sentir fome; e faltando-lhe o que comer, não tardou a ficar triste e aborrecido. Seu mau humor logo começou a preocupar e assustar a perdiz que, com muita humildade e prudência, se refugiou num canto do ninho. Mas o falcão, pouco depois, são suportando mais a fome, resolveu arranjar uma discussão com a pobre perdiz dizendo:
- Não tem sentido você ficar aí na sombra enquanto todo mundo já está curtindo o calor do sol.
A perdiz, tremendo de medo, respondeu:
- Rei das aves, é que já é noite e todo mundo está recolhido como eu. Não sei de que sol esta falando.
- Insolente! respondeu o falcão. Quer dizer que sou um mentiroso ou que sou doido? e dizendo isto agarrou-a matando-a instantaneamente para em seguida devorá-la e saciar sua fome.
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Moral da história: Não devemos nos deixar enganar por belas palavras de nossos inimigos. Inimigos são como políticos; quando querem agradar fazem promessas que não pensam em cumprir.
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