Uma pesquisa-ação inédita realizada pelo Ministério da Cultura (MinC) e pela organização social Casa da Arte de Educar apontou que professores brasileiros têm muita dificuldade no diálogo com demais instituições educativas - como museus e bibliotecas – e muitas vezes entendem cultura como sinônimo de “cultura letrada” aquela explicitada somente nos livros. O levantamento também revelou que escolas e demais equipamentos culturais precisam de apoio técnico e financeiro para se tornarem um sistema de educação ampliado como discute e planeja o Ministério.
O MinC realizou encontros em todas as regiões brasileiras no ano passado diversos, chamados de pesquisa-ação, que fazem parte do projeto nacional Um Plano Articulado para Cultura e Educação, que prevê a elaboração de uma nova política pública que faça da escola um grande espaço de produção e circulação da cultura brasileira, com acesso aos bens culturais e respeito à diversidade.
“As escutas revelaram que são muitas as iniciativas de parcerias entre escolas e equipamentos culturais no país, no entanto, estas iniciativas são instáveis e necessitam de investimentos técnicos e financeiros para se efetivarem como parceiros reais para as escolas. É preciso investir em canais constantes entre educação e cultura”, destaca Sueli de Lima, pesquisadora da Faculdade de Educação da USP e coordenadora da pesquisa.
Os encontros reuniram, além de professores, representantes de museus, bibliotecas, pontos de cultura, educadores, estudantes, artistas e lideranças comunitárias para debater as dificuldades e apresentar propostas de articulação entre Cultura e Educação. No total foram ouvidos 1.664 atores, em 165 municípios e 26 estados.
O “Plano Articulado para Cultura e Educação” é uma das iniciativas previstas no Acordo de Cooperação Técnica assinado entre o MinC e o MEC, em dezembro de 2011. Este acordo apresenta um orçamento total estimado em R$ 80 milhões para a realização de diversas ações entre as duas pastas.
Resultados da pesquisa
A pesquisa-ação abrangeu 165 municípios, 26 estados brasileiros e ouviu 1.664 atores com o objetivo de investigar as condições das práticas educativas realizadas por escolas e demais agentes educativos (como museus, ongs bibliotecas etc) visando estruturar princípios orientadores para as políticas da cultura voltadas para a educação.
“O que é preciso deixar claro que com esta pesquisa não serão apenas leis que poderão alterar as relações entre escolas, cultura e demais práticas educacionais. Só uma construção coletiva, dentro e no entorno da escola, amparada por uma legislação democrática, poderá implementar mudanças necessárias”, conclui Sueli.
Algumas conclusões
- A pesquisa-ação apontou que os professores têm demonstrado muita dificuldade no diálogo com saberes não instituídos, os chamados saberes do cotidiano, e muitas vezes entendem cultura como sinônimo de cultura letrada e que se aprende na escola.
- A pesquisa revela a necessidade de investimento para a conquista de práticas pedagógicas e de gestão democrática nas escolas. Sem condições de diálogo e participação não será possível a conquista da intersetorialidade entre as políticas de cultura e educação.
- O levantamento apontou a necessidade de investir em uma maior aproximação dos cursos de pedagogia e das licenciaturas com os estudos culturais, com a sociologia e a antropologia visando fortalecer a dimensão cultural das práticas educativas. Entre os pesquisados a mediação cultural é prática ainda distante das licenciaturas e podem auxiliar muito o trabalho de sala de aula.
- A pesquisa aponta que os equipamentos culturais também precisam conquistar e efetivar a dimensão educativa de suas práticas. Bibliotecas com espaços exclusivamente de consultas ou museus voltados somente para contemplação já não possuem mais lugar na sociedade de hoje. Vale destacar que os professores reclamam por identificação e mapeamento das iniciativas e equipamentos culturais no Brasil, assim como maior diálogo entre as práticas culturais e as universidades.
Consulta pública
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