Dr. Ricardo Di Bernardi
Segundo aqueles que nos exercitam o raciocínio, e às vezes a paciência, questionando a cerca da lógica da doutrina reencarnacionista, eis mais uma interrogação a que nos submetem com relativa freqüência:
Se admitirmos a continuidade da vida além do mundo físico, fatalmente nos encontraremos após a morte com nossos parentes. Considerando a pluralidade das existências, teremos a esdrúxula situação de depararmos no mundo espiritual com a presença de dezenas de esposas, mães, pais e centenas de filhos. Em última análise, perder-se-ia o sentido de família.
Sosseguem os preocupados e não se entusiasmem os polígamos, tal fato não ocorre.
Inicialmente, cumpre chamar a atenção para o fato das ligações de caráter reprodutivo serem adequadas ao nosso mundo físico onde a máxima “crescei e multiplicai-vos” depende fundamentalmente da diferenciação de sexos e do intercâmbio sexual entre as criaturas encarnadas. A conceituação de família a nível espiritual é diferente, mesmo porque os espíritos não baseiam suas afeições em moldes e necessidades idênticas às terrestres.
O infundado temor de que a parentela aumente indefinidamente, em virtude dos renascimentos sucessivos, tem também um fundo egoístico inconsciente. Demonstra naquele que sente, insuficiência de amor amplo para conter um número elevado de pessoas. Quem tem oportunidade de educar muitos filhos, não os ama menos pelo fato de serem em maior número, ao contrário cada vez desenvolve mais o amor.
No mundo espiritual temos notícia que a vivência acontece por similaridade de nível evolutivo. Não estaremos próximos daqueles que não sintonizarem com nossa faixa vibratória sejam parentes ou não. Se os diferentes gostos e preferências até aqui no planeta terra afastam as criaturas, o mesmo ocorre no plano extrafísico, e com muito maior intensidade.
O rótulo do parentesco nada significa quando não há semelhança energética. Há espíritos que, embora tenham sido parentes na vida física, situam-se em planos muito diversos (portanto distantes) de seus parentes, em função de sua natureza íntima lhes ser completamente distinta da parentela física.
Façamos uma comparação entre a tese reencarnacionista e a doutrina anti-reencarnacionista, no sentido da valorização da família. As ligações familiares não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como nossos inquisidores supõem. Ao contrário, observaremos, pelo raciocínio a seguir, que as mesmas se tornam mais autênticas e duradouras.
No mundo extrafísico, os espíritos constituem famílias interligadas pelo amor e pela simpatia. Felizes por se acharem juntos, eles se buscam uns aos outros. A encarnação apenas temporariamente os afasta do convívio de seus entes queridos, uma vez que ao retornarem à pátria espiritual, novamente se associam tal qual parentes que voltam de uma viagem.
Freqüentemente reencarnam no mesmo seio familiar auxiliando-se mutuamente. Aqueles que permanecem no plano espiritual, continuam a manter sua união pelo vínculo do pensamento de amparo e afeição. Vida após vida, os laços afetivos ficam mais estreitos pois se reencontram ora no mundo físico ora no plano espiritual, burilando cada vez mais a qualidade do vínculo que os une.
Parentes que, aqui na Terra realmente se estimam, atestam, inclusive, ligações pretéritas que os agruparam novamente na vida atual. Comum é escutar a referência popular sobre pessoas que “parecem não ser da família” tão expressiva a diversidade ética ou de caráter que demonstram com relações aos demais membros do mesmo núcleo familiar.
Na realidade, muitos que convivem sob o mesmo teto o fazem para a superação de incompatibilidades sérias e necessitam perdão mútuo. A presença de espíritos antipáticos no núcleo familiar tem por objetivo o progresso de todos os envolvidos. Não eram parentes espiritualmente falando, mas poderão vir a ser ao desenvolverem entre si laços de amor genuíno.
Segundo os conceitos tradicionais da vida única, a sorte pós-túmulo dos membros da família, estaria definitivamente selada com o desenlace físico. O sofrimento eterno ou as bem-aventuranças permaneceriam asseguradas em função das atitudes comportamentais durante a vida.
Desta forma, a doutrina não-reencarnacionista separa definitivamente pais e filhos, maridos e esposas que permanecem “condenados” ou sem esperanças de se reverem. A idéia de uma vida só ou unicidade da existência levaria a destruição total dos laços de família.
A filosofia reencarnacionista oferece uma visão menos sombria informando que todos os que se amam voltam a se reencontrar e sobretudo, conforme foi dito, “nenhuma das ovelhas se perderá”. Não há almas condenadas eternamente.
As reencarnações nos ensejam a certeza não só do reencontro dos afetos, mas a segurança de que a felicidade futura será o destino de todas as criaturas. Há solidificação e a ampliação dos laços do amor.