Jerri Almeida
A coerência pressupõe uma identificação entre o que se pensa e fala em relação ao comportamento prático adotado. A questão pode parecer simples, mas, em verdade, essa simplicidade ganha níveis de complexidade em face da personalidade humana. Ser autêntico e fiel ao que pregamos e ensinamos é o mínimo exigido de qualquer um que se diga espírita. Vejamos: Como, por exemplo, poderia alguém que se diz espírita, ensinar e falar sobre o amor e o respeito e, ao mesmo tempo, ser infiel aos seus compromissos conjugais? Outro exemplo: Alguém que estuda o Espiritismo e se autodenomina “espírita”, mas, não obstante, “morde-se” ao sinal de qualquer contrariedade? Estamos refletindo sobre a coerência entre o dizer e o fazer e, essa reflexão é, para muitos, sempre dolorosa.
Com isso, não estamos querendo dizer que o espírita tenha que ser um “santo” ou coisa parecida, mas que, ao adotar a Doutrina Espírita como sua religião ou filosofia de vida, adote, também, uma postura de coerência, esforçando-se o máximo para que o seu comportamento – não só na Sociedade Espírita – reflita, em todos os sentidos, o valor admirável da mensagem de renovação interior proposta pela veneranda Doutrina Consoladora. O verdadeiro espírita não é, necessariamente, aquele que possui “30 anos de Doutrina”, mas aquele que, muitas vezes, tendo pouco tempo de conhecimento espírita, busca munir-se de esforços perseverantes na exemplificação daquilo que conhece.
Não é possível alguém falar sempre de “perdão” e viver “melindrado” diante de situações interpessoais adversas. Em face dessas questões Allan Kardec referiu-se em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” , Capítulo XVII, sobre o “verdadeiro espírita” ou “os bons espíritas”. Essa questão nos leva a refletir sobre a responsabilidade dos nosso atos perante a sociedade onde vivemos, perante as pessoas que nos conhecem na Sociedade Espírita (pregando o amor e a caridade) de uma forma e, muitas vezes, nos encontram fora da Sociedade expressando comportamentos diversos daqueles que pregamos. Emmanuel costuma lembrar que a melhor divulgação da Doutrina Espírita é através do comportamento – escrito, falado, vivido – dos espíritas.
O mundo não precisa mais de verbos vazios. O mundo necessita de pessoas realmente comprometidas e responsabilizadas com as mudanças ético-morais fomentadoras de uma “nova era”. O espiritismo possui todos os quesitos técnicos para nos instrumentaliza nessa notável tarefa, mas a ação dependerá sempre de nós. Dizer-se “espírita” sem Ter vivo dentro de si a noção dessas responsabilidade é assemelhar-se a um livro de páginas em branco; não tem nada escrito, portanto, não tem valor.
Ser um trabalhador espírita é assumir um sério compromisso perante nossa própria consciência a quem, mais dia, menos dia, haveremos de prestar contas. E no balanço da consciência é importante Ter sempre “saldo positivo”, coso contrário, os débitos ensejarão o ressarcimento inexorável em face da Lei de Ação e Reação. Quem mais conhece, maiores as possibilidades de balizar “o que podemos, mas não devemos realizar” daquilo que “devemos e podemos fazer”. Assim, é “pelas obras que se reconhece o cristão” ou, é pelos seu comportamento do dia-a-dia que se reconhece o verdadeiro espírita.
Urge, portanto, refletirmos sobre a coerência do ser espírita. Aproveitemos para exercitar a grandiosidade dessa proposta nas nossas relações convivenciais – dentro e fora da Instituição espírita – adotando uma postura de repúdio aos melindres e mágoas derivados sempre do orgulho. Assumindo, dessa forma, um comportamento fraterno, não de superfície, mas de profundidade. Somente assim, estaremos todos, realizando esforços ingentes e profícuos na edificação de um mundo mais justo, solidário de fraterno.