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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Respeito. Sim, e a primeira de todas é a de respeitar o direito dos seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça (ou seja, não respeitam os direitos dos demais), cada um usa de represálias e é isso o que faz a perturbação e a confusão de vossa sociedade. A vida social confere direitos e impõe deveres recíprocos. [1] Qual é a atitude de quem respeita os direitos de seus semelhantes? Devemos respeitar e apreciar apenas aquelas pessoas que consideramos merecedoras de nossa deferência? O respeito que devemos ao outro independe de nossas convicções? Entre a capacidade de sentir amor e o respeito, qual dos dois será o mais importante?



Allan Kardec, na questão 877, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, pergunta: “A necessidade para o homem de viver em sociedade, ocasiona-lhe obrigações particulares?”
         Resposta:

            Sim, e a primeira de todas é a de respeitar o direito dos seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça (ou seja, não respeitam os direitos dos demais), cada um usa de represálias e é isso o que faz a perturbação e a confusão de vossa sociedade. A vida social confere direitos e impõe deveres recíprocos. [1]

         Iniciemos com alguns significados da palavra respeitar: “Ter em consideração; tratar segundo os preceitos da moral ou da urbanidade; honrar; não causar dano a; poupar.” [2]

         Respeitar os direitos de um semelhante significa agir com justiça e honestidade, porque esse sentimento de consideração, necessariamente, se expressa através de atitudes de honra à sua pessoa, às suas possibilidades e escolhas, às suas crenças e convicções, bem como aos limites que ele mesmo estabeleceu em sua relação conosco. 
         O respeito é o direito básico de todo indivíduo. Todas as criaturas deveriam ser dignas de manifestações de honradez e consideração, por mais miseráveis, ridículas e abjetas que possam ser, pelo simples fato de serem seres humanos. Em todo e qualquer indivíduo existem os mesmos anseios e necessidades, a mesma essência espiritual que cada um de nós carrega.
         Assim, não devemos respeitar e apreciar apenas aquelas pessoas que consideramos merecedoras de nossa atenção. Se somos capazes de ter comportamentos positivos, não podemos ser seletivos em relação aos indivíduos a quem destinamos a nossa consideração.
         No entanto, conforme observação dos Espíritos Superiores a Kardec, existem criaturas que não sabem viver com educação. A falta de consciência das consequências dos próprios atos tende a fazer delas pessoas de temperamento impulsivo, agressivo, intolerante, negligente, insensível, destrutivo, com dificuldades de disciplinarem as próprias emoções e de conservarem a empatia, o bom senso e o respeito em seus relacionamentos.
         Mas, quando temos consideração por uma pessoa, atribuindo a ela a devida importância e deferência, nosso comportamento é repleto de dignidade. Porque temos, como princípios de conduta, a ética e a justiça, adequadamente sabemos observar, avaliar, ponderar, para, somente depois, agir.
         Existe um ditado que reza: “Seja feliz, com a consciência tranquila, de que ninguém ficou sem saber o quanto você respeita a paz do outro.”

****

         Para se viver em paz, é imprescindível aprendermos a respeitar a privacidade – ou seja, a intimidade, a particularidade, a individualidade dos demais.
         Às vezes, por não gostarmos de alguém, deixamos de ter consideração por essa pessoa. Mas, conforme já abordado, muito embora não lhe destinemos o nosso afeto, ela merece respeito, como ser humano que é.
         No entanto, a situação contrária também ocorre: por julgarmos que amamos muito uma pessoa, nos sentimos no direito de invadir seus domínios, sua privacidade. Em muitas relações, o amor se expressa através do sentimento de posse que uma pessoa nutre em relação a outra, no qual, uma está sempre tentando – e até conseguindo – submeter a outra à sua própria vontade, ao seu jeito de ser, sentir e pensar, para que determinados caprichos possam lhe ser satisfeitos. Mas, entre a capacidade se sentir amor e o respeito, este será sempre o mais importante, porque respeito também significa tratar o outro com amor e dignidade.
         Na questão 839, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Kardec indaga: “É repreensível escandalizar (ou seja, ofender, indignar) na sua crença aquele que não pensa como nós?”
         Resposta: “É faltar com a caridade e golpear a liberdade de pensar.”
         E, na 841, podemos encontrar:

            Deve-se, em respeito à liberdade de pensar, deixar se propagarem doutrinas perniciosas, ou se pode, sem insultar essa liberdade, procurar trazer de novo ao caminho da verdade aqueles que se perderam por falsos princípios?
         Resposta:

            Certamente se pode e, mesmo, se deve. Mas ensinar, a exemplo de Jesus, pela suavidade e persuasão e não pela força, o que seria pior que a crença daquele a quem se quer convencer. Se há alguma coisa que seja permitido se impor, é o bem e a fraternidade. Mas não cremos que o meio de os fazer admitir seja o de agir com violência: a convicção não se impõe.  [1]

         Todo indivíduo é dotado de livre-arbítrio, o que lhe permite fazer as escolhas que melhor lhe aprouver. Sendo assim, a liberdade de crença é também um direito seu, e o respeito que lhe devemos independe de nossas convicções.
         No entanto, quantas são as vezes em que sentimos a necessidade de converter pessoas às nossas opiniões, sejam elas religiosas ou não, mas utilizando da força, da imposição e de expressões verbais que fogem à boa educação!
         O Espírito André Luiz alerta: “A boca invigilante, muitas vezes, discorrendo sobre o amor, condena e fere.” [3]
         Quantas são as vezes, também, em que, para ajudarmos alguém, tentamos subordinar esse auxílio à aceitação de nossos pontos de vista, em razão de considerá-los os mais corretos e adequados a sua realidade! Mas, o que sabemos de concreto sobre a realidade alheia? Agindo assim, estamos, verdadeiramente, compreendendo o momento evolutivo dessa pessoa? Estamos respeitando a sua individualidade, o seu direito de ser diferente de nós? Estamos, realmente, tratando-a com amor e dignidade, da maneira que julgamos estar fazendo?
         O Espírito Maria Nunes assim define o respeito que devemos aos outros:

            Respeitar é valorizar o companheiro, é ouvi-lo com atenção nas suas ideias, tirando dela algo que necessitamos. Respeitar é não querer se sobressair por vaidade. Respeitar é não desdenhar das qualidades alheias e não falar de outrem, nem frente a frente, nem na ausência. Respeitar é dignificar a amizade em todas as horas e minutos, mostrando que já entendemos o porquê somos muitos, compreendendo que cada criatura tem alguma coisa para dar.
            (...) Não te sirvas da tua sabedoria para humilhar ninguém. Respeita a opinião de todos, dando também a tua, quando solicitada, sem opressão e vexame para com os outros.
            (...) Um coração bem formado sabe o que deve dizer e como proceder em quaisquer condições.  [4]

         Bem sabemos que, em nossa atual sociedade, várias são as vezes em que necessitamos agir de forma mais enfática e contundente, a fim de conseguirmos realizar muito daquilo a que nos propomos. Situações ocorrem em que somos, mesmo, obrigados a ter uma postura mais firme na defesa de princípios, valores e pontos de vista que julgamos imprescindíveis para nós.
         Porém, nesses momentos, como se torna fundamental o equilíbrio, a serenidade e o respeito perante as ideias com as quais não concordamos. Nessa hora, não serão a intolerância e o desrespeito que nos possibilitarão atingir os objetivos desejados. Diante da competição, seja de ideias, de posições sociais ou qualquer outro fator, é indispensável a devida consideração para com a multiplicidade e as diferenças.
         É óbvio que não devemos permitir que ninguém, pura e simplesmente, abale nossas convicções. Mas, também, não podemos agir dessa maneira em relação aos outros. O correto é respeitarmos a nossa realidade, bem como a alheia. Em outras palavras, respeitar para ser respeitado.
         Em seu diálogo com o Cristo, o discípulo Filipe pergunta:

            Jesus, podes nos ajudar, principalmente hoje, a entender o que deve ser o Respeito aos outros? Senhor, encontro-me assustado, pensando no que devo fazer para entender e praticar o que chamas de amor ao próximo.        

         E Ele assim lhe responde:

            Meu filho, o apreço que devemos ter às pessoas e, em certo ponto, até aos animais, exige de nós muita acuidade, muito senso espiritual, cabendo dentro da máxima que sempre repetimos: ‘Não fazer aos outros aquilo que não queremos que eles façam conosco’.  Coloca-te no lugar daqueles que esperam o teu respeito, que logo saberás como deves agir para com eles. Nem sempre os conceitos da vida que abraçamos são certos para nossos semelhantes. (...) O acatamento às pessoas é distinção da alma nobre. Mas saber como respeitar é inspiração da caridade integrada ao amor. Não queiras impor, a quem quer que seja, o teu ponto de vista. Não deves forçar as consciências, a título da vontade de Deus (...).
            Se queres entrar nos corações alheios para levar a boa nova do reino de Deus, isso nos dá muita alegria. Todavia, Filipe, espera que os corações abram as portas dos sentimentos. O fruto verde dificilmente tem sabor e, acima de tudo, é nosso dever respeitar o ambiente alheio   [5]


Acate com respeito todas as religiões.
Cada homem tem o direito de escolher o caminho que prefere.
Respeite a liberdade de crença dos outros, tanto quanto aprecia que respeitem a sua.
Não discuta nem procure tirar ninguém do caminho em que se acha, a não ser que seja procurado para isso.
Respeite, para ser respeitado. [6]



Respeitar as idéias e as pessoas de todos os nossos irmãos, sejam eles nossos vizinhos ou não, estejam presentes ou ausentes, sem nunca descer ao charco da leviandade que gera a maledicência.
Quem reprova alguém conosco, decerto que nos reprova perante alguém. [7]



876 – Fora do direito consagrado pela lei humana, qual é a base da justiça fundada sobre a lei natural?
– O Cristo vo-la deu: Desejai para os outros o que quereríeis para vós mesmos. Deus colocou no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo de cada um ver respeitar seus direitos. Na incerteza de que deve fazer em relação ao seu semelhante em dada circunstância, o homem se pergunta como ele desejaria que se fizesse para com ele em circunstância semelhante: Deus não poderia dar-lhe um guia mais seguro que a sua própria consciência.
O sublime da religião cristã tem sido de tomar o direito pessoal por base do direito do próximo. [1]


Silvia Helena Visnadi Pessenda
sivipessenda@uol.com.br fonte:aluzdoespiritismo

REFERÊNCIAS


[1] KARDEC, Allan. O livro dos espíritosTradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa100. ed. Araras, SP: IDE, 1996.

[2] MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.

[3] ANDRÉ LUIZ (espírito); VIEIRA, Waldo (psicografado por)Conduta espírita21. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1998. Cap. 16.

[4] NUNES, Maria (espírito); MAIA, João Nunes (psicografado por). Ele e ela. 4. Ed. Belo Horizonte, MG: Editora Espírita Cristã Fonte Viva, 1998. Cap. 45.

[5] SHAOLIN (espírito); MAIA, João Nunes (psicografado por). Ave luz. 10. Ed. Belo Horizonte, MG: Editora Espírita Cristã Fonte Viva, 1999. Cap. “Respeito”. p. 82-84.

[6] PASTORINO, Carlos Torres. Minutos de sabedoria41. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. Cap. 32.

[7] ANDRÉ LUIZ (espírito); VIEIRA, Waldo (psicografado por)Conduta espírita21. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1998. Cap. 20.

domingo, 10 de abril de 2016

A criança precisa ser ensinada a ler com profundidade.Ler é algo que se desenvolve por meio da imersão em sua prática. Quando lemos, também construímos os sentidos. Ensinar a ler é ótimo, a interpretar é essencial. Ninguém sabe ler de antemão, e isso não se refere apenas à decifração de códigos, letras e frases, mas sim ao desenvolvimento de capacidades leitoras diversas, como, por exemplo, a de inferir sentidos. atividades profissionais que exigem comunicação verbal eficiente e boa redação ou em função de necessidades mais gerais, relativas à inserção social, o que demanda saber ler diferentes tipos de texto, ou mesmo saber utilizar o nível de linguagem adequado a diferentes situações.


José Ruy Lozano
Ninguém sabe ler de antemão, e isso não se refere apenas à decifração de códigos, letras e frases, mas sim ao desenvolvimento de capacidades leitoras diversas, como, por exemplo, a de inferir sentidos.
Frequentemente, a relevância da leitura para a vida em sociedade é debatida.
São várias as preocupações de pais e educadores no que se refere às exigências sociais associadas a ela, seja em função de atividades profissionais que exigem comunicação verbal eficiente e boa redação ou em função de necessidades mais gerais, relativas à inserção social, o que demanda saber ler diferentes tipos de texto, ou mesmo saber utilizar o nível de linguagem adequado a diferentes situações.
Ainda que existam, hoje, muitas mídias que viabilizam o acesso rápido e irrestrito a informações úteis para a vida cotidiana, o texto escrito é ainda o meio fundamental de obtenção do conhecimento.
Isso porque ele oferece ao leitor possibilidades de interpretação e, portanto, maior autonomia. Quando lemos, também construímos os sentidos, pensamos autonomamente, elaboramos nossas indagações e recusamos, confirmamos e/ou redefinimos respostas. O leitor é aquele que reescreve o significado do texto a partir de sua interação com as intenções de quem escreveu.
Se a importância da leitura é consensual, a constatação de que nossos filhos leem mal desperta grande inquietação, além do desejo de ajudá-los no processo de aquisição da capacidade de ler com eficiência e inteligência.
O primeiro passo para ensinar a ler textos de maior complexidade é justamente o de compreender o quão complexo pode ser, para as crianças e jovens, um texto que para nós, adultos, é relativamente fácil ou óbvio.
Nesse processo, não existem obviedades. O que é claro e evidente para mim nem sempre o é para uma criança. Ela detém um repertório mais restrito, tanto de palavras quanto de experiências.
O que nos induz ao próximo passo: ensinar a ler exige a intervenção ou a mediação ativa de quem propõe a leitura, sejam pais ou professores, tomando o cuidado de não ler para a criança, pois isso substituiria sua experiência de leitura.
É preciso ler com a criança, questionando-a sobre passagens que ocultem implícitos importantes para a compreensão global do que se lê, além de estabelecer relações de significado que, de outro modo, passariam despercebidas.
Assim, estaremos ensinando que ler é mais do que decifrar letras: ler é pensar sobre o que se lê. E isso fará toda a diferença no futuro.
Outro elemento importante para permitir o aprendizado desta atividade é possibilitar o acesso da criança à maior variedade possível de textos, em diversas situações sociais de leitura.
Ler é algo que se desenvolve por meio da imersão em sua prática, não atividade exercida de modo descontextualizado da vida em sociedade. De acordo com essa visão, o adulto precisa mostrar para a criança como os textos que circulam na sociedade podem ser usados, a fim de que ela compreenda os seus sentidos.
Charges ou tirinhas de jornal, por exemplo, muitas vezes não são compreendidas pelos mais novos. “O que tem de engraçado aqui?” perguntam-se. Isso ocorre quando o efeito de humor passa por um dado cultural desconhecido pelo jovem leitor.
Esse dado pode ser apenas uma palavra de duplo sentido ou até mesmo um pressuposto que exige o reconhecimento de fatos políticos ou históricos. Propagandas estabelecem relações de sentido que podem ser inferidas de acordo com a intenção daqueles que as produziram e com o público a que se destinam os produtos.
Uma notícia pode ser escrita com diferentes intencionalidades, visando a finalidades que não são apenas as de informar. Da mesma maneira, um artigo de opinião pode refletir tendências ideológicas de quem o publica.
Compreender essas relações não é fácil, nem pode ser dado como pré-requisito. Como já se afirmou aqui, ninguém sabe tudo de antemão; ou seja, a criança precisa ser ensinada a ler com profundidade.
Ao questionarmos nossos filhos sobre todas essas complexidades, em diversas situações sociais, estaremos evidenciando a eles que ler envolve “um montão de coisas”, o que provavelmente os induzirá a ler não somente com maior atenção, mas também de modo mais inteligente.
A atitude do adulto diante da leitura deve ser positiva, se ele quiser influenciar o jovem a ler mais e melhor. Essa postura inclui necessariamente um envolvimento afetivo com o que lê.
O adulto é quem oferece um modelo de leitura para o aluno-leitor, servindo-lhe de exemplo e espelho. Caso a criança não reconheça a importância da leitura nas atitudes do adulto, seu modelo, qualquer estratégia será em vão. Continuamos ensinando melhor por nossas obras do que por nossos discursos.
José Ruy Lozano é professor do Ético Sistema de Ensino, da Editora Saraiva, e licenciado em Ciências Sociais e Letras pela Universidade de São Paulo (USP).