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domingo, 31 de julho de 2011

Esses diferentes são todos iguais. Será que esses cristãos todos padecem do terrível mal que atormenta o povo brasileiro, a interpretação de texto defeituosa? Não pode ser.



Li que o psicopata norueguês que assassinou 76 pessoas em Oslo é um “fundamentalista cristão”. Ou seja, trata-se de um adepto radical do cristianismo. Que é, todos sabem, a religião do amor. No seu grande manifesto filosófico, o Sermão da Montanha, Jesus disse: “Amai ao próximo como a ti mesmo”.
Mais até. Ele disse: “Amai aos vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem”. Logo, um fundamentalista cristão deveria ser uma pessoa que ama incondicionalmente as outras pessoas, que entende o significado revolucionário de oferecer a face esquerda quando alguém lhe aplica uma bofetada na direita. Deveria ser um adepto da paz e do entendimento entre os homens.
Qual é o problema daquele norueguês, então? Qual é o problema de outros tantos cristãos convictos que lutaram contra os muçulmanos em Cruzadas, queimaram mulheres em fogueiras, supliciaram hereges, submeteram índios pela força das armas e, ainda hoje, matam, roubam e exploram o próximo? Será que esses cristãos todos padecem do terrível mal que atormenta o povo brasileiro, a interpretação de texto defeituosa? Não pode ser. É gente demais.

Provavelmente eles entenderam tudo o que a religião deles prega, mas não têm interesse em agir de acordo com suas próprias crenças. Porque o cristianismo diz que todos somos iguais, e essa é uma ideia insuportável. As pessoas querem, desesperadamente, ser diferentes. A vida inteira lutam por isso, para se diferenciar dos outros. Não querem que os outros sejam seus “semelhantes”, querem que sejam diferentes. O patriotismo, o nacionalismo e o racismo se alimentam desse conceito, o de que as pessoas são diferentes.
Não faz muito, um aluno de História de uma universidade gaúcha escreveu um trabalho em que se referiu a questões “multirraciais”. Algo mais ou menos na linha do psicopata norueguês. Estamos no século 21 e ainda há pessoas que acreditam em raça. Pesquisas com DNA, testes com Carbono 14, a Ciência com cê maiúsculo, enfim, já provou que somos todos misturados, nós, humanos, que todos viemos do mesmo lugar, a mãe África, e que não há, e nunca deve ter havido, uma chamada “raça pura”.
Em essência, que o conceito de raça é falso, que raça não existe. Está tudo escrito, explicado por historiadores, por cientistas, por filósofos: não existem diferenças espirituais, físicas e intelectuais entre os seres humanos. Somos todos iguais, seja qual for a cor da pele ou a textura do cabelo. Isso é detestável para quem se crê diferente.
O curioso é que as pessoas que mais querem ser diferentes não toleram diferenças. Homofóbicos arrancam orelhas de supostos gays a dentadas, antitabagistas tentam proibir o fumo até em parques, ecologistas chutam carros nas ruas, europeus brancos fecham as fronteiras a africanos negros.
Não toleram diferenças, mas passam a vida a ressaltar o quanto eles são diferentes e chegam a defender suas diferenças a bala. E eis aí a razão de grande parte do sofrimento da Humanidade: é o fato de haver quem acredite que ser diferente é o mesmo que ser melhor.
 
DAVID COIMBRA

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