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quinta-feira, 10 de junho de 2010

As sociedades tidas como “primitivas”, até mesmo “selvagens”, têm mais sabedoria, e, geralmente, uma ligação com a natureza muito mais rica do que a nossa. Somos responsáveis pelo sistema econômico falho, excludente, perverso – que, apesar da crise, surpreendentemente permanece o mesmo – que, visando ao lucro e ao crescimento ilimitado, coloca a natureza como uma ‘pedra no sapato’ para atingir o “desenvolvimento”. Avatar


Avatar aparece num ótimo momento.
Após o fracasso da Conferência do Clima em

Copenhague e no início do Ano da Biodiversidade,


é um brado de alerta sobre nossa péssima

relação com a natureza.

Merece ser assistido pelos belos efeitos e pela

fotografia extraordinária, porém, mais do que

isso, apresenta uma poderosa mensagem

ecológica: o homem precisa restabelecer sua

conexão coma natureza.

Nos fala também de respeito ao próximo,

homem, animal ou floresta, igual ou diferente de

nós.

O espectador é transportado para a lua Pandora,

habitada pelo povo Na’vi, em um universo de

experiências sensoriais encantadoras, com seres

de formas jamais imaginadas, cores reluzentes e

uma natureza exuberante.


Avatar propõe uma discussão pertinente sobre o

futuro do nosso planeta, a Terra.


Inova ao expor a monstruosidade do ser humano,

personificado no cel. Miles, que destrói um

mundo em perfeita harmonia, com uma

brutalidade chocante, em cenas que provocam

indignação.


Mostra a inescrupulosidade do ser humano, até

onde o homem é capaz de chegar para obter

ganhos econômicos.


Quando a árvore-casa dos Na’vi cai, o

desmatamento da Amazônia, da Mata Atlântica,

o derretimento dos polos, a morte dos corais e

dos oceanos, enfim, todas as desgraças

provocadas pelo homem são evocadas.


Vemo-nos atirando contra a natureza, só porque

debaixo dela se encontra um minério valioso,

que, para os humanos, resolveria a crise

energética, uma vez que em 2154 – ano em que a

trama se passa – não existe mais verde na Terra.


Com a Terra arrasada, segue-se a colonização de

outros mundos. Ao mostrar nossa mesquinhez, o

filme pretende atingir o que ainda resta de

consciência ecológica no ser humano.


O nome da lua, Pandora, é significativo. Na

mitologia, Pandora, a primeira mulher criada por

Júpiter, recebe dos deuses, presentes em forma

de dons, como beleza, persuasão e música.


Do marido, Epimeteu, recebe uma caixa contendo

todos os males, com a advertência de não abri-la.

Mas a curiosidade foi maior, e Pandora abriu a

caixa, liberando pragas que atingiram o homem,

restando apenas a esperança.


Pandora não cuidou de sua caixa, e nós não

estamos cuidando do nosso planeta.


Avatar nos adverte: a Terra é nossa caixa de

Pandora. Se não soubermos preservá-la, será o

nosso fim.


O filme é permeado de esperança. Na lua

Pandora tudo está em equilíbrio. Uma árvore da

vida, a deusa Eywa, sustenta as conexões entre

as raízes de todas as árvores e entre todos os

seres.


É uma teia, como as sinapses que ligam os

neurônios em nosso cérebro. Acaso na Terra os

sistemas também não estão interligados? Esse é

o preceito fundamental da ecologia. Como dizia

José Lutzenberger, em seu Manifesto Ecológico

Fim do Futuro: tudo está relacionado com tudo.

Tudo é uma coisa só.


Embora nossa conexão não se realize

diretamente, como ocorre por meio das tranças

dos Na’vi, com os cavalos (Direhorses), animais

alados (Banshee) ou com a própria terra... ela

existe, só que está perdida pelo nosso

afastamento da natureza.


Avatar nos diz que, se quisermos manter o

direito de habitar na Terra, precisamos colocar-

nos novamente em contato com a natureza.


O personagem principal, Jake Sully, consegue se

libertar da cegueira e da ignorância e perceber a

tempo a catástrofe que os humanos iriam

desencadear em Pandora.


Ao entrar em contato com os costumes dos Na’vi,

Jake Sully, aos poucos, vai compreendendo a

importância da harmonia ecológica de Pandora.


Trata-se, além de conhecer os modos de

alimentação e locomoção, de como respeitar a

vida em todas as suas formas.


Quando a jovem princesa Neytiri diz a ele “Eu

vejo você”, ela não apenas vê, mas sente,

percebe e respeita o outro.


Para vivermos em equilíbrio com a natureza e

com nossos semelhantes, é preciso “vê-los”

profundamente.


Um aspecto interessante é que a vida no avatar

passa a ser mais real do que a “vida real”. Isso

pode instigar-nos a questionar: a vida que

levamos atualmente nos proporciona qualidade

de vida? Não está na hora de buscarmos

qualidade de existência?


O filme nos mostra que as sociedades tidas como

“primitivas”, até mesmo “selvagens”, têm mais

sabedoria, e, geralmente, uma ligação com a

natureza muito mais rica do que a nossa.


Somos responsáveis pelo sistema econômico

falho, excludente, perverso – que, apesar da

crise, surpreendentemente permanece o mesmo

– que, visando ao lucro e ao crescimento

ilimitado, coloca a natureza como uma ‘pedra no

sapato’ para atingir o “desenvolvimento”.


O que nos falta, como mostra Avatar, é

envolvimento.


O próprio nome “desenvolvimento” sugere um

desligamento com o envolvimento, uma total

desconexão com a Mãe Natureza, que só gera

desequilíbrio para todos nós.


Estamos cada vez mais desconectados com a teia

da natureza, preocupados em ganhar dinheiro

custe o que custar.


Mesmo que o preço seja a vida dos que ainda não

nasceram ou até mesmo dos oceanos, das

árvores e dos animais, não cogitamos alterar

nossos hábitos de consumo, extremamente

danosos aos recursos naturais, e, muito menos,

mudar nossa matriz energética altamente

poluente.


Ainda há tempo para salvar a Terra, basta nos

reconectarmos.


“I see you!”   “Eu vejo você!”


 Elenita Malta
 


 







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